quarta-feira, outubro 26, 2005

Sr. Vianna


Já faz quatro dias que nada escrevo, que nada penso sobre mim, você, os outros, a rua logo aqui em baixo, ou tudo que acontece ao contrario que penso ser. Não me importo, mas confesso que me cobro um pouco de ação, um pouco do que não consigo ser no momento que quero ter. E talvez seja essa uma das grandes paredes que fecham a vontade de quem quer transformar em palavras sentimentos que muitas vezes só podem ser sentidos por um toque ou um olhar. Estou de luto com a gramática.

Tento passar minha angustia nessa ultima hora não pensando em nada disso e deixo nas mãos do acaso o que virá e se não vir se acabou, enferrujou, não era pra ser, foi só o que foi. Escutando a tv falando baixinho ao meu lado lembro uma de minhas experiências mais surpreendentes nesses últimos tempos, e pra quem me conhece sabe como é difícil pra mim puxar conversa com alguém que não conheço. Sou pura timidez.

Voltando de lua de mel, ultima escala antes de casa, sentei ao lado de um cara no avião, uma pessoa facilmente notada por sua aura e por sua história. Depois de muito refugar resolvi iniciar uma conversa porque sabia que deveria partir de mim o primeiro assunto, e muito pensei antes de proferir a primeira vogal da minha boca seca, e também já estava me preparando para uma resposta curta e uma descontinuação permanente de uma conversa entre dois desconhecidos, só que um, e esse era eu, não sabia que a fagulha da minha experctativa viraria chama em uma prosa que não iria terminar antes de um sincero e fraterno abraço e de um beijo como só aquele que dou em meu pai, irmãos e em alguns pouquíssimos amigos.

Para o meu completo engano desde as minhas primeiras palavras uma continuação de assuntos e sintonia revelou uma pessoa distante ficar tão próxima de mim. Foram os quarenta e cinco minutos mais curtos da minha vida. Eram tantas historias, tantos momentos críticos passados por aquele homem, eram tantas perdas e amores recusados, era tanta dor e alegria dividida, que algumas lágrimas caíram dos meus olhos porque já não encontravam um lugar no meu corpo que já era um só mar.

Sempre me recordo desse dia, dessa pessoa que em alguns minutos conseguiu mudar vários conceitos em mim, e ele ali sentado, não sabia que ao me levantar eu seguiria diferente.
Ficou marcado um comentário na minha cabeça quando ele me perguntou meu signo e eu disse: gêmeos! E ele: “gêmeos normalmente são contidos, você é diferente, é emotivo!”.

Percebi a diferença entre um estranho comum e um estranho com sentimento, e a grande distancia é o que se carrega por dentro e o que se divide com quem senta no banco ao lado.

Ao Sr. Vianna deixo em testamento todos os abraços que não pude lhe dar, e levo comigo todo o carinho que posso carregar.

Foto por Sebastião Salgado

2 comentários:

Anônimo disse...

A vida tem dessas coisas; As vezes buscamos uma resposta por muito tempo e onde menos procuramos achamos a solução do enigma.Ouvir histórias é sempre um grande incentivo. Eu devo ser um bom ouvido, sempre param do meu lado e disparam várias coisas mas ainda não tenho muito o que contar.
beijo da prima

Anônimo disse...

Lindo isso...lindo esse dia...lindo vc!!