quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Não você















Me leva reencontrar
O que deixei atrás
Me leva cais

Me leva lado de lá
Acabar com o deixe estar
Me leva mar

Me leva alto sol
Pelo destino cega olhos
Me leva nó de cordão

Te ver é me entregar
Entregar o que tenho
A quem não posso ter

Me leva eu
Em passos leves
Pelo breve mar
Me leva viver em paz
Como que me navegue
Pelo não te ver mais.

Foto por Jorge Garcia

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Da série pensamentos Marcianos

Estava tentando dar um jeito na casa que anda um pouco, na verdade, bastante desarrumada, é que a senhora desse teto gosta de tudo limpinho e mais que arrumadinho. Não posso tirá-la a razão. Portanto lá estava eu pela cozinha, bucha, detergente e talheres na mão, quando... Páaaaaa cai o prato do escorredor! Putz! O escorredor já estava cheio, não teve jeito, o prato teve que arrumar um lugar pra se acomodar, melhor mesmo que fosse pelo chão.

Continuando com as mudanças previstas na planta da minha consciência. Tenho passado boa parte do meu dia em casa, assim como passo comigo mesmo. Meus pensamentos recusam a se tornar atitudes mais concretas, por enquanto são promessas internas como essas paredes pela sala prometendo ao andar de cima que não cairá. É o começo do assim se modifica a casa, pelos profundos alicerces e não pelas cores de sua pintura. As vigas, as raízes escondidas são sempre mais difíceis de se enxergar, mas só elas nos mudam, e para isso não só apenas tem que se deixar às portas da casa aberta, mas também a vaidade descoberta, para aceitar o eu errei. Sabendo que a vantagem do erro é o recomeço, o refazer, o seguir modificado e isso é tão valioso como o inicio de uma vida.

Vou limpando o chão, jogando os cacos brancos no lixo e lembrando da importância do que eles eram quando juntos, foram almoços regados à boa conversa e companhia mais que primordiais, foram conselhos e sentimentos compartilhados, segredos e angustias escondidas, foram dias tristes e felizes como tem de ser, dias que nunca vou esquecer.

De qualquer maneira tudo um dia chega ao fim para poder renascer, e assim deixo meus sentimentos de lado, a pintura, para consultar meus valores, a base, para me responder pensamentos cravados como espinhos dentro de algum lugar que não consigo identificar. É como perceber uma dor sem saber qual local se inicia, é saber que o quadro na parede esta torto e não saber que distância tomar para poder alinhá-lo.

Encontro à resposta nas gavetas desse imenso e sólido armário no centro da casa, estavam ali esquecidas, lá no fundinho. Meus sentimentos foram me guiando para o lado oposto, se deixou levar pelo momento de total bagunça e desordem dessa casa. Achei na gaveta a agenda dos meus valores e assim a resposta. Agora já posso ir descansar esperando o dia do próximo dia! Mas antes mande minhas recomendações a Marte, e a meu amigo Marciano diga que espero recebê-lo em breve para outras visitas, novos passeios pela terra de areia branca para ter noites de sono leve e sereno.

E tudo isso só por ter um prato quebrado no chão, quando será que a “Maria” volta dessas férias!

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Barco á vela




















A mesma sala e janela,
O mesmo grito adentra
Nesta calma encoberta.
Tudo isso me faz pensar
Sobre a razão dona do meu penar.
Como é fácil perder
Quando não se vê
Simplesmente como se é.
Demora acreditar
Que o melhor está por vir
E ai como saber por onde ir.
Não a sucesso como o fracasso,
Não há compasso maior
Que a janela olhando mar.
Me ensina navegar
A passos largos caminhar
Mesmo cansado e só.
A procura do passado
Ver e reconhecer
Se sou eu em mim mesmo
Ou só a dobra do sino da dor.

Foto por Hugo Amador

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Ciúme














Como fui te perder se tanto te amei
Se tanto te odiei por ser eu
Aquela que mais me doei a ti
Esta que agora vejo te fazer cortejo
Não é melhor nem maior do que sou
Pode esperar porque ainda vou
Reencontrar o seu olhar sem dor
Fazer-te esquecer que um dia
Tentei revelar o seu querer
Fingindo sozinha não mais te ter
Posso apostar minhas fichas
Não demora o tempo trazer
Uma nova rixa ao seu prazer
Daqui vou ver e rir escondida
Do seu temor à solidão
Neste momento aproveito
A oportunidade dada pelo vão
Farei um convite e terei resposta
Vou abrir ante mim a porta
Deixarei minha mágoa cair
Sobre sua camisa de brim
Assim quem sabe outra vez
Olhar-te sorrir-te e talvez
Enfim me fazer compreender
Não se pode ser ao mesmo tempo
Esperta e apaixonada
Nesta hora de agora e adiante
Serei eternamente apenas amante.

Foto por Marta Gonçalves

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Era uma vez um corvo














Cova do meu pensamento
Abaixo a frente dos meus pés
Cova cavada enviada a mim
Através de todo esse tempo.
Tempo covarde arrancado pelo tormento
Vento gelado tentando corroer a vontade.
Vontade que permite meu sonho.
Sonho sonhado vai e vaga
Feito anéis de fumaça.
O real só permite a meta
Nada a não ser a reta.
Reta da qual me esquivo
Feito alvo de flecha.
Não me pega
Não me venha
Dizer o que é regra.
Nem tudo está posto
Como mesa de jantar
Onde cada um sabe
Seu devido lugar.
Eu me nego até me cego
Cobrindo olhos sem medo.
Não quero ver
Não quero pensar
Não quero saber.
Quero ser
Aprendendo
O desaprender.

Foto por Corvo

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Curvas














Lá vão as ruas
Lá vão elas
Nuas não estão
Sabem como
E como chamam
Atenção

No canto do salto
Sandália arrasta
Pelo quente asfalto
No balanço das linhas
Se vão pelas ruas
Levando sorrisos
Tirando suspiros
De olhares famintos

Sou olhado com cisma
Por essas nobres meninas
Então pergunto ao Tom
Se o que me afasta
É porque vejo
Aquilo que falta

Quem sabe o que passa
Por dentro das burguesinhas
Mãe e filhas de unhas perfeitas
Seios fartos sobre pelos dourados
Quem sabe o que há por dentro
Será um pobre tormento
De saber que a beleza acaba
E quando se acaba
O que sobra é nada

Quem sabe o que passa
Quem sabe é quem passa
E afinal tem alma lá dentro
Ou só grande vazio por dentro.

Foto por Sissi