sexta-feira, setembro 30, 2005

asas nos pés

...Essa história não se trata de uma fuga desesperada em direção ao norte, apontada pela sombra do sol esticando meu corpo nessa terra cinza. Também não me refiro ao anseio de abandonar o que colhi, embora me alimentar seja a maior porção da minha preocupação. Serenamente não vivo mais apenas por mim, sabiamente seguei meus olhos, amordacei minha boca, inundei meus ouvidos renhindo minha hesitação de enxergar mais longe, de entender o que digo e de escutar o que cala. Por isso e tudo chegou a hora de me lançar. Mesmo deixando tantos pra trás dessa vez não ia reclinar. Apertei meu santo entre mãos e lábios e pedi remissão.

Primeira viagem, primeira mala de necessidades, e o exercício do desapego por tudo àquilo que penso ser útil. O pó da antiga mala de couro é tirado com o devagar cuidado de uma mulher que teme a solidão do abandono, e no mais singelo acalanto balbucia lembranças da minha infância de pés descalços. Como quem diz não se esqueça que lutei pra que você não tivesse que lutar. Chorei pra que você não tivesse que chorar. Me coloquei de costas a sua frente para receber as chagas que eram pra ti. Vou ficar aqui mas quero te ver um dia voltar e melhor que agora poder te ver voltar a sorrir.

Horas se passaram e nos arrastaram pela madrugada uma longa conversa de sabor doce como as lembranças daquela primavera na casa de praia com os amigos chegando, e sobre as festas de natal na casa velha, a mesa posta, a ceia delicadamente ornada a espera, e as promessas de um novo ano sem os antigos vícios do passado.

Os primeiros feixes de sol burlaram a cortina contra minha vontade e me avisam que já é tarde, hora de partir! Pego a mala pé ante pé, beijo a testa daquela mulher de sono leve que num movimento lento e cheio de carinho sopra no meu ouvido suas sabias palavras de despedida: Não construa pra ti um caminho, tenha sempre asas nos pés para ir por onde o sonho quiser...

...CONTINUA

quinta-feira, setembro 29, 2005

flor

Venho caminhando pela calçada e vejo minha flor arrancada
Aquela tratada com água, sol e jarro acolhedor
Como pode ter o homem tamanha falta de amor?
E despedaçar uma pequena flor.
Tanto guardei, tanto cuidei, tanto protegi que a trouxe aqui.
E agora é só pedaço de flor que chora.
E de lá vem outro homem a me perguntar
Porque eu estou a chorar
Oh meu senhor, arrancaram minha flor
Tanto cuidei, e agora se foi, despetalou!
E ele sem pena no olhar me disse assim:
Ela já era triste
Desde quando fora arrancada do seu campo
Desde quando fora enjaulada nesse canto
Ouvi-se seu grito em vermelha cor.
Você a trouxe para cidade da desordem cidadã
Onde a maldade está na cor cinza do ar
No descaso com o escuro do mar
Onde já se queimou até verde olhar
Achou que na sua jaula de amor
Poderia aquela flor se tornar flor feliz?
Mas não meu amigo, flor não é ator.
Ninguém a roubou
Eu mesmo ouvi
Quando ela se suicidou.

Foto por Paulo Medeiros

quarta-feira, setembro 28, 2005

...


Meu maior consolo nesse momento de total desequilíbrio dessa colméia humana é saber que estou apenas desacreditado. Desacreditado? Isso ao menos me diz que eu um dia acreditei e por força dessa contra gravidade tornei-me “dês”.
Os anos foram responsáveis, hoje trinta, não sei quando essa conta acaba, mas sei que nunca diminui.

Um dia foi inocente, mas desde a invenção do fogo há milhões de anos o homem perdeu sua inocência e deu vida a conquista, ao poder e ao que a falta de poder faz. Desde o fogo nos vêem desacreditando, desmanchando, desumano, sinto, mas, nunca voltaremos a ser desnudos. Tempo demais, fogo demais.

O que me entristece é essa fagulha de desconfiança em quase certeza acreditar, e meus filhos? Como será? Em que eles vão poder acreditar? Não sei se terão a graça de ao menos se tornarem “dês”, não sei se eles vão nascer e ter em quem ou em que acreditar. Inacreditavelmente não sei se eles vão saber conjugar, um verbo que está em permanente mutação a caminho do abismo da extinção.

O humanismo acinzentou, não acredito mais no homem, não me parece mais humano, me parece mais como o bicho da maçã, que corre pelo cume da fruta tentando achar uma fraqueza pra que possa entrar. Me parece a larva procurando se entranhar na procura nômade por alimento que só ira tornar sua vida uma morte menos breve. Parece-me aquele missionário esperando o índio virgem retornar da mata para ele catequizar. Parece-me o sol do sertão árido, esperando cair o choro da criança pra também poder secar.

Seremos nós os vermes, seremos nós a doença a transformar essa terra em um só câncer? Imagino-me olhando de cima de um microscópio e vejo os caminho que cavamos, e as covas que plantamos. Sempre mais fundas sempre mais fria.

Onde está Deus nisso tudo, olhando sua mesa vazia e tentando de todas as maneiras exterminar a praga que assola sua plantação? Jogando sobre nós doenças, terremotos, enchentes, enxertando inteligência em nossas mentes para acharmos uma rápida maneira de nos implodir? Não, acho que não, nós já temos essa competência, adquirida no comercio inescrupuloso, no jogo atrás do jogo, na política atrás das mortes, na caneta atrás da má intenção, no antes verde e agora concreto esguio, na mentira antes da verdade. Até meu futebol de domingo foi contaminado! Onde estão os Deuses? Onde estarão os astronautas e suas promessas de cura?

Realmente não sei se teremos gerações em que acreditar, porque não sei se elas acreditarão, ou se já nascerão fadadas a somente decorar seu habitat natural sem nenhuma resignação.
Inconformadamente, não sei, estamos vivendo a reta, sem saber o que faremos quando a iminente curva chegar.

Não tenho Deus a quem pedir, mas se tenho quem me ouvir, eu peço um único e último desejo, antes do fim me deixe beijar meus amigos, me deixe ficar com minha família, me deixe dormir nos braços da minha mulher. Permita-me recobrar a fé.

Foto por Bruno Miranda

terça-feira, setembro 27, 2005

simples assim








As coisas são apenas coisas
Nada mais que coisas, mas
Quando a tratamos mais que coisas
Quando julgamos mais que coisas simples
Estamos perdendo tato e visão
Começamos a perder as coisas simples
Estamos acreditando em outras coisas
Querendo ver além das coisas
Ver o que não se mostra
Até não sentir mais o gosto
Do que se prova
Até esquecer das coisas
Que são as coisas simples
Até se perder na dor
Por não saber simplesmente sorrir.

Foto por Bruno Espadana

sexta-feira, setembro 23, 2005

Verdade?

A dificuldade da verdade está pressa a seu significado externo, interpretação e aceitação, são também muitas vezes confundidas com a falta de educação. Mas na realidade não passa de uma aleivosia venal, um mal cevado em nossas entranhas.
Hoje é preciso ter provas pra se aceitar a verdade, enquanto a mentira não precisa de provas, a mentira sim é uma verdade absoluta.
Mentimos nas pequenas coisas, pra agradar, pra justificar, pra tornar uma história mais interessante, pra não admitir nossos erros, pra achar outro culpado, e por inúmeras outras quase justificáveis razões.

O exercício de dizer a verdade é como acordar cinco e meia da manhã pra nadar no mar. A verdade é fria! Você disse a verdade por não ter ido aquele casamento? Disse a verdade por nunca ter usado aquele presente que lhe foi dado? Quando te perguntaram sobre o corte de cabelo? Ou aquele escarpam de pele de bicho? O porque de não retornar aquele telefonema? A sinceridade se tornou uma pequena candeia no meio da infinita escuridão.

Infelizmente a verdade soa mal, estamos nos sentindo mal por falar, e bem por omitir. Todos preferem ouvir confortáveis mentiras, todos preferem ser “agradáveis” como se agradar fosse parte do mentir, o pior é que está sendo. O famoso vírus da “mentira social”, aquele que nos insere em um circulo de pessoas que dão tapinhas nas nossas costas e depois saem falando mal regulando nossa distância com olhar por cima dos ombros. A cura desse vírus não está à venda em qualquer botica, é um típico mau hábito sem medicação.

Devemos querer ouvir a verdade mesmo que seja o que não se queira ouvir? A verdade que nos faz pensar, mudar, resistir , a mentira que nos faz acreditar no que não somos, no que não temos, nos faz cegos, e ainda nos faz mentir mais! Então escolha sua pílula! Azul ou vermelha?

Hoje em nossa sociedade a verdade é algo que se enganou.

Foto por Bruno Espadana

terça-feira, setembro 20, 2005

Moça










Nos pés rasteiros quase chão
No rosto cheio quase lua
Vem de braços em horizonte
Com constante sorriso nos lábios
No sempre sonho andante
Pra sempre menina maluca.

Queria eu ouvir a voz dos poetas
E fazer para ti versos cor de prata
Tendo refletido sua beleza exata
Perceber como é iluminada.

Olhe em volta dessa praça
Toda essa gente esperando
Ter uma migalha de sua graça
Você não percebe, mas eu vi!
Não tenha vergonha de sorrir.

Apresso-me em dizer
Tudo que digo pra você
Digo com a pressa
Medo da morte breve
Um dia me toma o ultimo suspiro
E me leva em vórtices a rodar.

Te prometo menina moça
Não me debater em aflição
Como uma medusa na chegada de um arpão.
Sinto que posso ser um anjo
E do seu lado invisível guardião.

Ah minha morte bem vinda
Faça do coração dessa menina
Uma casa de repouso,
Um asilo de atores,
Fantasia de ver a vida
Em sempre carnaval
Passando pela larga avenida
A dança da moça bailarina.

Foto por Bruno Miranda

sexta-feira, setembro 16, 2005

Prosélitos

Tava pensando aqui comigo sozinho, calado, na cabeça só o barulho do martelo fixando as tábuas dos tapumes pra que eu não veja, não sinta e não fale de “políticos brasileiros”. Mas antes de fechar a ultima fresta... Antes terei que mudar o Aurélio e criar novas definições de qualquer relação que eles tenham com o Brasil e seu povo. Não temos políticos porque pra eles não existe Brasil, só “PIBEP” o Partido Individualista do Beneficio Próprio. Cadáveres embalsamados em ternos, todos remidos de qualquer vinculo que não seja o pessoal. Chega! Parei de querer entender de política, e desses assuntos que dizem ser ligados ao “nosso interesse”. Simplesmente porque desses assuntos não adianta entender, discutir, debater e sei lá mais o quê, porque no fim tudo se trata de comprar, privilegiar, interesses que excluem diretamente nós, os camponeses dessa terra em erosão.

Enquanto nossos fidalgos continuarem a comer da terra tudo que ela produz, nós teremos de nos contentar com o que escorre de seus cantos labiais. E pensar que se deve esquecer tudo isso. Não! Afinal, nos obrigam a votar. Tudo o que temos, nossa única arma um único tiro, é também um desperdício. Somos obrigados a aceitar donatários quatro anos no poder. Penso! Se nós elegemos com o nosso voto, por que só eles tem o direito do voto quando é pra tirar? Deve ser porque existe renuncia, ou melhor, impunidade! Chego ao ponto onde me culpo por pensar e não tolero não pensar, será que vale a pena escolher o menos pior? Você, na sua vida escolhe o menos pior? A menos pior mulher pra casar? O menos pior carro pra comprar? A menos pior musica pra ouvir? E por aí vai, a menos pior escola pros seus filhos estudarem? O menos pior hospital pra se tratar... Eu acho que não! Escolhemos o melhor de acordo com nossas possibilidades e gosto pessoal. Temos que escolher o menos pior só quando não temos escolha, nesse casso somos obrigados a votar, obrigados a “escolher”.

Antes de sair aqueles trinta e poucos milhões na mega sena eu decidi se ganhasse iria fazer uma campanha na tv logo após o horário político. Ia ser assim “não votem!” Queria que as pessoas não se dessem nem o trabalho de sair de casa pra votar, seria a maior das passeatas, ver as ruas vazias, passando por elas só vento e luz. Todos de braços cruzados em casa, fazendo uma revolução silenciosa em suas próprias alcovas.

Não terão remissão de minha parte! Não darei o direito de serem as vitimas! Foram eles a se conspurcarem nas sombras como morcegos, como corvos! Não podemos agora deixa-los procriar como tinhorões se um dia quisermos pasto fértil. Deixemos os trovões reboarem naquele planalto, deixemos todos burlões morrerem “catrinados”! Todos os que sabem e dizem que não participam, pela omissão, os que não viram, pela mentira, os que julgam, por não se julgar!

Fim a todos que dizem zelar por nós!

Foto por Sebastião Salgado

quarta-feira, setembro 14, 2005

Menina de azul













Menina que corre
Corre agora no tempo,
Sem tempo de parar
Entre um trabalho e outro,
Falta de escolha
Falta de tempo pra brincar,
E o pouco que te sobra pra lembrar
Já é tarde, hora de criança deitar.

Te olho e imagino ver moldura além,
Dorme criança e tente sonhar
Sonhos coloridos e bem vivos
Com pinceis, doces e amigos.
Pinte sua janela e o quer ver através dela.
É no tamanho do olhar
Que vai onde se quer chegar.

Por onde vai a pressa?
Pela porta entre aberta
Ou esquina e ruas a serem descobertas.
Rezo que por onde ande
Encontre quem te acompanhe.
Mais triste que criança triste
É o nó de ver criança só.

Corre criança pelo contorno vermelho
Deixando o vento te levar.
Saindo do foco
Encontre um abraço
E que um dia encontre por quem descansar,
Que um dia encontre e chegue hora de parar.

Menina vai além
Aquém da moldura
Que te fez morada
Além do muro
Que te fez represada
Pés descalços, braço fino,
Cabelo índio,
Rosto escondido
De vergonha apressada
Sem tempo de posar.

Dorme criança e me deixe sonhar...
Sonho de poder brincar
Sonho que deveria toda criança
Poder sonhar...


Creditos:
Tanto pra escrever quanto pra fotografar, nos inspiramos em alguém ou em algo pra começar, neste em particular me inspirei nesta foto do amigo Bruno Miranda. Desde a primeira vez que vi essa foto na casa do Bruno fiquei com ela registrada na minha mente e quando comecei a escrever esse blog ficava sempre querendo colocar essa foto como ilustração, mas nunca conseguia. Ela sempre me pareceu maior, de uma leveza de alma superior. Até que então resolvi parar de pensar nessa foto pra ilustrar o que escrevia, e sim, escrever o que sinto quando a vejo. Não sei se é de gosto, mas é de coração. Obrigado Bruno Miranda!



Pessoa










Queria saber pra que tanto pensar
Queria saber pra que tanto entender
Queria saber pra que tantas palavras
E tantos dicionários analfabetos pra ler
Se tento crer e ser ausente
De toda essa pálida gente
Não serei eu a turfa
Presa embaixo da unha
Pensar é a morte, inicio da razão
A principal causa de tantos cegos corações
Pensar é não compreender
É dizer o que não sente
Mentir docemente pra si
Costurando o coração na alma
Enquanto a mim, nasci assim
Sem perceber como Pessoa
Amando a eterna inocência
E a única inocência é não pensar.

Foto por Bruno Espadana

segunda-feira, setembro 12, 2005

black

Um dia triste, como será um dia triste!? Um dia sem voz que se confirma com olhar de pupila dilatada pela distancia do coração que vai ao longe como um barco preste a encontrar corais?

O egoísmo!? Como será? Será como cair no mar e ao redor de tanta água querer que uma única lágrima tenha mais importância que o pranto de todo oceano?.
Como podem se perder no egoísmo cristão e se sufocar com seus próprios espinhos? Como ser tão mesquinho?

Deve ser tudo isso que estou sentindo!?

E arrependimento!? É ver o tempo secar as magoas, secar a distancia, secar os corpos e deixar tudo ser apenas areia e nada mais adiante ser?

Há muito mais no meu olhar do que um dia de tristeza pra chorar, não vou mais pegar a lança do passado e deixa-la enristada no meu peito. Se tiver mesmo que chorar a dor, seja ela do tempo presente mais que perfeito.

Foto por Bruno Espadana

sábado, setembro 10, 2005

morena

É morena do sorriso de estrelas
Quanta saudade que não se desmancha
Nessa minha esperança que não se cansa
No meu peito, é morena, dos meus braços
Nos meus olhos repousam lágrimas tuas
Com juras prometo ser a teu lado
Um cavaleiro armado
Protegendo sempre em silêncio
O que lhe é confiado

É morena, liberte o coração da caixa pequena
Toque uma música e acenda uma vela
Escute minha voz dizendo que te espera
E que acabe assim sua ida tão desmedida

Minha querida queira me lembrar
Quem foi mesmo o tolo a te deixar
Achar outra morena não mais
Nem com novenas ele achará
Nem se com paciência tentar

É morena, voltarás mesmo por mim
Sendo assim por mais ninguém
É morena abra tua janela para o mar
Constrói pra ti um barquinho
Que te caiba e te traga
Para perto de mim.

terça-feira, setembro 06, 2005

Pulseirinhas mágicas


São tantas as cores dessas pulseirinhas que já nem sei qual cor é pra qual caridade.
Nossa como me impressiona essa tamanha compaixão “pirata” pelo próximo, uma verdadeira hoste gigantesca de bons moços e boas moças marchando mar adentro pra se perder no horizonte das boas intenções. Como são humildes, como são benevolentes!

Como são cavilosos, com tanta bondade nos pulsos, mas em fila carregam um eclipse no coração. Presencio uma legião de pulserados em cenas de estupidez e falta de educação, regadas com uma soberba de causar estranheza até a um Neanderthal. Então afinal pra que servem essas pulseirinhas?

Continuamos os mesmos corsários, devastando portos e embarcações menores que se aproximam de nós, continuamos não respeitando ninguém, não ajudando ninguém, só a nós mesmos, com a eterna pose de fingir ser o que não somos.

Vamos vende-las em camelôs pelas 25´s espalhadas por todo lugar, falsificá-las antes de serem pensadas, preço barato compra qualquer intenção. Pra que pagar caro? Pra ajudar alguém? Se eu posso colorir meu braço quase biônico a pouco custo, afinal sou terceiro mundo, tenho o direito a ter uma alma miserável.

Há! Vamos vender! Vamos comprar, sendo originais ou verossímeis, chinesas ou nova-iorquinas! Vamos Criar coleções, cores diferentes para cada estação, badulaques customisados e penduricalhos assinados pelos bambambans fashionistas, mas tudo com muito glamour e versões falsificadas é claro. O importante é ser sempre quase original!

A moda da caridade e como a mente daqueles freqüentadores de intermináveis missas, que estão ali pra pagar seus pecados diários, diariamente repetidos e perdoados pela máquina religiosa.
Nossa maior invenção, depois da pirataria e da religião, é o modulo de isenção automática de nossas consciências. Será que tem um camelô aqui por perto?

Foto por Bruno Espadana

fractal


Então velho amigo, foi curto, mas um belo reencontro, já se fazia dois anos e muitos acordes, riffs, bases tinham passado por aqui, mas as lembranças daquele tempo nunca saíram desse quarto. Embora cinza, úmido e barulhento, sem duvida o melhor canto da casa. Quantas memórias na parede, quantas músicas presas no ar! Tem coisas na vida que por mais vivida não se esquece, gênero primeira bicicleta, no meu caso primeira bateria e indo mais à frente, líricos fractais...

Caro amigo só me resta o maior dos tesouros, a boa lembrança! A eterna vontade de re-habitar aquele quarto cinza com as cores de suas notas. Caro amigo obrigado pelas noites de interminável paciência e tolerância, por ficar comigo quando outros já tinham desistido e pela confiança, por me emocionar e me libertar, por querer andar junto por mais que eu me atrasasse. Obrigado amigo, por retornar!

sábado, setembro 03, 2005

Recado










Você é assim
Só de olhar
Quero você pra mim
Pra sempre é pouco
Louco quem não é?

Você é assim
Só de olhar
Quero estar onde estás
Se for qualquer lugar?
Me lanço até no verde mar.

Me perdi pra te encontrar
Tanto te achei sem querer,
Que me cerquei de ti
E do que mais virá.

Hoje sou da alma a calma
De viver o dia em paz.
Quero sempre te dar
O que é difícil encontrar
Num só olhar

Você é assim
Feita pra mim
De canto a pranto
Do começo ao fim.

Foto por Mario Guerra Jr.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Sou ruim pra título

Desde ontem estou sentindo aquela sensação de “brinquedo novo”, aquele quando a gente ganha não quer parar de brincar e quando para, não para de pensar nas possibilidades das novas brincadeiras. Lembra como era?

É tão engraçado como as coisas simples tomam uma proporção de alegria e contentamento em nossas vidas, pelo menos na minha toma. Às vezes acho que brindo por qualquer festa modesta, basta que me ericem as rugas e num levante de incontinência toda a face segue a ordem em completa desordem.

Comigo foi sempre assim, e sei, não é assim pra grande parte das pessoas que eu conheço, embora hoje, algumas eu realmente já desconheça. Quando lembro que um dia todos nós éramos feitos de chicletes, skate e joelhos ralados, sinto um conforto em saber que da minha essência nada se subjugou. Não tive que sentir meu corpo sendo lançado ao encontro de um talvegue, o que me lembra claramente a imagem daquele coiote do desenho animado.

Pra mim é um grande desperdício a contrafação do sorriso por um Veuve Cliguot, um 18 anos, um lustroso italiano, se as crianças se divertem muito mais com uma coca-cola e pés descalços.

Lá no alto me parece as pessoas que não reconheço mais, são pedaços de carne nobre amparadas por talheres de prata e o comportamento de pungente picardia se torna o prazer de ver tudo em gesso, brando como o sorriso branco-lazer.

O que vai ser de nós meros olheiros impávidos diante de tantas conjeturas moldadas por uma mera inclusão, aceitação, aberração sóciopata!!! Meu Deus, éramos só barro e uma costela e agora quanta borracha moderna, quanta etiqueta e moda, quanto pé de galinha em extinção!

Será que é o fim? Claro que não! Porque eu sei que não sou o único que ri disso tudo!
Será que chega o dia de sermos tudo aquilo que dizemos ser?
Esperaremos pelo amanhã...

Foto por Sebastião Salgado

quinta-feira, setembro 01, 2005

Lembranças

Outro dia ia passando e encontrei um velho amigo e logo surgiram as primeiras palavras ecoando lembranças de um tempo que passa tão apressado que, parece mais que foi ontem.
Pois é depois de andar tanto é que pensamos "onde cheguei?" e por mais que não precise tentar a saudade aponta no coração, confesso que no meu, a vontade era de rever tudo como se tudo fosse um filme de sessão da tarde, sempre há tempo pra mais uma reprise.

Caio na duvida de um eterno clichê que a maioria diz "eu não mudaria nada na minha vida", sei lá, acho que mudaria, ou melhor colocaria algumas coisas atrás da porta! acho que me importaria menos com certas opiniões, acho que ouviria mais certas pessoas, outras mandaria calar a boca e outras não teria a vergonha de ter dado um beijo na boca!.

Pra mim a cabeça é a melhor parte do corpo, nos leva pra qualquer lugar sem sair do mesmo lugar, as pernas cansam, e não chegam lá. E ainda, a melhor parte é mudar de idéia, agora acho que ficaria com o velho clichê. Daria muito trabalho, seriam mudanças intermináveis a procura da perfeição de cada momento, de cada detalhe, aquela resposta, os dias que perdi a hora, aquele cadarço desamarrado, hum! no meio do bate bola, aquela viagem, aquele não, aquele sim, é tanto "si" e talvez, que o melhor é ficar onde tudo está.