quinta-feira, janeiro 24, 2008

Pois é


É tão claro o dia, mas em meu corpo é treva,
A culpa baixa nos meus ombros e seu peso me leva.

Vejo o que lhe dói bem lá no fundo
Porque também já me fizeram doer nesse mundo.

Por mim e por todos cai meu choro
Segue sinfonia de desespero em bravo coro.

Dor de primeira, mas não única despedida,
Trazendo deserto por onde anda a vida.

Dor de tudo, dor doente e amaldiçoada,
Consumindo o próprio sal da face inchada.

Dor do tempo que passou ignorado
Deixando a dor para um não amado.

Se não é o amor que nos liberta
Terá alguém uma resposta mais certa?

Será só ele mesmo que nos ilumina a face?
Só ele, mesmo de tão longe queremos que nos abrace.

Ao amor nada se explica nada se cala e nunca se basta
Sobre a terra desconheço algo de natureza tão casta.

E a prova é que para amar temos que estar vivendo
Tanto quanto para doer o que está doendo.

Foto por Manu Coloma

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Vou


Passou no rosto o lenço de adeus
Seguiu andando, pois é tempo de andar,
Deixou para trás fantasmas em pleno ar
Pela frente avista caminhos todos seus.

Quem clama é o futuro que ninguém responde
Repleto de acasos no ir e vir para não sei onde
Sentou e pensou em tudo de que o destino é feito
Respirou lentamente a liberdade dentro do peito.

Abriu os braços naturalmente em forma de asa
Tornou-se real para ele mesmo naquele momento
Entendendo que a vida cura a dor que passa
Assim também como a chuva o sol e o vento.

Porque é sempre tempo de recomeçar
Esquecer dos olhos o rastro de choro
Lembrando aos olhos a direção do olhar
O mais é tinta, sem esperança de quadro.

Foto por Bruno Miranda

terça-feira, janeiro 08, 2008

Varanda


Por onde andas?
Procuro por esta varanda
Enquanto a vida desanda.

Deste alto rondo
Vendo sol ante sol se pondo
Mas ainda não é tua voz que respondo.

Não há nada de ti
Nem acima ou abaixo daqui
Apenas tua ausência senti.

E por isso morro
Por não estar na minha frente
Mas sempre nos olhos da minha mente.

Foto por Manu Coloma