quinta-feira, dezembro 13, 2007

Coisas


Enterrou o sorriso com que amavas
Fez-se lábio cinza imposto pela vida
Às tuas mãos só importam coisas.

Inúmeras tristezas e amarguras
Salvas dia a dia no mar da ira
Às tuas mãos só cabem coisas.

Serás nome inútil gravado em lápide
Dono único de um corpo morto
Às tuas mãos só carregam coisas.

E tudo que leva não preenche
Espaço algum se completa
Às tuas mãos só seguram coisas.

Pobre eu, só queria o que és e não o que dás.

Foto por Francisco Garrett

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Parte de um momento


Lagrimas secam pelo meu rosto
Saudade de como eu era antes
De cabeça baixa segue a alma enrugada
Por fora o corpo aparenta como ontem
Mas tudo escorre por dentro em mar de sal
Minha alma repousa em um barco velho
Navegando a deriva sem destino e só
Sou puro pensamento e nada sentimento
Talvez porque quem se vê bem não serve para se notar
Escondo-me de todos menos de mim
O mundo me enterra com pedras pesadas
Como não sei o que fazer com elas as guardo
Afundo neste mar profundo e denso
Ergue-se na encosta uma verdade falsa
Vejo em mim o antes e o depois
Já não tenho certeza se devo continuar.

Foto por Manu Coloma

terça-feira, novembro 27, 2007

Flores de chuva


Se cada beijo fosse
Anuncio de despedida
Beijaria como se fosse
Ultimo suspiro de vida
Aqui escorre a chuva triste
Que talvez já nos toque
Dizendo em palavras justas
Que flores não são perenes
Sendo as flores findas
Findo aqui nossas dores.

Foto por Manu Coloma

segunda-feira, novembro 19, 2007

Móbile


E a dor já é de pesar
Um espaço negro e profundo
Sem mágoa e sem amor
Vazio por fora oco por dentro.

Não sei mais os sonhos que tenho
Que angustia me fere?
Que prazer me encanta?

Para alguém que espera em vão
Já nada mais espera,
Já nada mais teme.

Onde a dor é um bem
Ser é fingir ser outro
Estar é mentir o momento.

Foto por Bruno Miranda

sexta-feira, novembro 09, 2007

Hoje em dia


Quando não te tinha não sabia
Que meu olhar era tão cego.

Mas sabia que tudo incompreendia
Certo de que hoje reparo diferente.

Sendo mais calmo, sereno e sincero,
Reparo sol, lua, nuvens e flores.

Reparo gosto e aroma
Tu existes, sou melhor.

Pois me amando, amo-a,
Me escolheu e assim se deu.

Nossos olhares fitaram-se
E tudo ficou demoradamente
Em silencio e congelado
Sobre todas as outras coisas.

Só me arrependo de não ter lhe amado antes
Mas penso que é este o valor da descoberta
Penso em ti e dentro de mim sou completo.

Sou eu, sou feliz,
Porque todos os dias acordo, lhe olho e sinto amor.

Foto por Manu Coloma

terça-feira, outubro 09, 2007

De longe


Gosto de tuas palavras
Pelo sabor que destes
Gosto de teus gestos
Pela delicadeza que tens
Gosto de teu sorriso
Pelo caminho que abres.

Simples assim
Gosto de tu
Sem sequer saber
Se gostas de mim.

Gosto de teus olhos
Pelos sonhos que vês
Gosto de tuas mãos
Pelo carinho que guardas
Gosto de teus lábios
Pelo segredo que és.

Simples assim
Gosto de tu
Sem sequer saber
Se gostas de mim.

Escrevo aqui esta verdade...
Quando penso em teu rosto
Fecho os olhos de saudade.

Foto por Nuno Manoel Batista

segunda-feira, setembro 24, 2007

“Amar se aprende amando”


Pousa nesses ramos a queda do amor
Que por puro descuido não regaste
Segue à dor a morte em lentos movimentos
Fenecendo sob o céu aos olhos de Deus.

Perdoarias tu se confessasses
Pois assim não seria mentir
Não perdôo então emudeço
Secando os galhos em desamor.

Caíram minhas pernas
Perdeu-se a vontade de andar
Segue o natural das coisas e das gentes
Não esperava que tu fosses como eles.

Esperava que fosse como eu imaginava
Mas todo sentimento escapa à letra escrita
E sem ter nem um nem outro
Emolduro a luz que por dias me iluminou.

Sendo sou planta fraca em tom amarelo
Recebendo água vã do pranto meu.

Obs: A foto de Lú Peçanha que ilustrava este post foi retirada a pedido de sua assessoria jurídica. Para maiores detalhes e esclarecimentos favor ler "comentários" abaixo.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Morte de Carlos Slim


Em mim as lágrimas nunca são o bastante
Contra esse inferno ardente e mal tratante
São da minha dor os espaços sem medida
De uma falsa esperança fantasiada de vida.

Ao sorriso cobre lágrima e horror
Champanhe bebemos quando há festa
Vinho bebemos quando há dor
E em ambos os copos nada resta.

Eram meus os sonhos de um menino novo
Hoje são todos rostos vazios feito um morto
Reduziram-me a poder e dinheiro dentro do bolso
Tornei-me um velho que da vida não sente mais gosto.

Foto por Ricardo da Costa

quarta-feira, agosto 29, 2007

Pausa para não pensar


Vou escrevendo estas linhas como quem não se preocupa
Em preencher os espaços com as palavras e sentidos certos
Simplesmente escreverei assim o que me acontece
Feito gestos a apontar direção para alguém perdido.

Vou procurar dizer o que sinto sem pensar no que sinto
Descolando as palavras da razão e a mente das idéias
Queimando as pontes do pensamento para que não tenha saída
Tão somente eu preciso não saber que não sei.

Despir-me-ei do tanto que escolhi aprender
Acharei um modo de esquecer o que me ensinaram
Raspando o gelo com que cobriram meus sentidos
Serei eu sem capa e sem mascara apenas alguém que sente.

Assim continuo a escrever ora bem, ora mal,
Ora errando, ora acertando o que quero dizer,
Por vezes caindo, mas acreditando que posso continuar
Indo sempre pelo meu caminho feito um animal cego.

Sou um descobridor de mim e do mundo
Alguém ao encontro das sensações verdadeiras
Chegando ao destino desvendo o que realmente existe
E o que existe é não precisar aprender
Porque trago minha natureza a uma nova natureza
E o que levo para minha natureza é o meu próprio eu.

Foto por Renato Brandão

terça-feira, agosto 21, 2007

Gregório e Deus, o Diabo e a Mulher


Ah meu Senhor não venha dizeres
Que fui eu a errar e pecar
Se foste tu a criar estas mulheres
Que nos roubam o ar.

Quem sois vós para vir a mim
Chegar ante Deus e pedir
Para melhor vos ouvir.

Saibas que por ti pratico minha fé
Mas o que hei de fazer
Se por elas perco o chão do meu pé.

Se pecados tens a lhe pesar
Perdão é o que pedes
Para que possas descansar.

Não me entenda assim por mal
E nem se sintas ofendido
Porque pelo que faço
Jamais me sinto arrependido.

Ainda se faz de rogado
Atrevido ser desalmado
Saibas que pestes lançarei
Por seus caminhos sem lei.

Sua graça perseguirei, Redentor
Para libertar meu pecado confinado
Porque sei que és maior, Senhor
E por tudo serei por ti perdoado.

Não tenhas tanta certeza
Que vossa Alteza ira revogar
Pois Cristo queres enganar
E com o Diabo prefere se juntar.

Sei que missa inteira nunca ouvi
Exercitei taras por mulheres raras
Levei meus atos ao rumo dos pecados
Mas como não ser pagão tendo olhos então.

E lá se vão elas levando nosso sono
E lá se vão elas com andares profanos
Mulheres demônios
Homens mundanos.

Foto por Marta

terça-feira, agosto 07, 2007

João & Maria


O que se sabia
Era que João
Queria que Maria
O quisesse um dia
Ele apaixonado
Enquanto ela fingia
Foram tantas cartas
De infinitas poesias
E de Maria
Nenhuma resposta viria.

Um certo João
Uma errada Maria,

O que se sabia
Era que tudo
Acabaria um dia
E um novo amor
Ele veria
Suas cartas ela leria
Foi quando João
Cansou de querer
Queria Maria
Chorar o que perdia.

Um errado João
Uma certa Maria,

Essa historia
É só mais uma
Que se repetiria
Para provar que amor
Não se trata
Com mesquinharia
Supõe-se que Maria
Do amor pouco amava
Ou pouco entendia
Pois matar um amor
É estar ausente
Do presente
De quem ama.

Foto por Fernando Figueiredo

terça-feira, julho 24, 2007

Breve história de um longo reinado


Ante a Forca

O papel a carne e a caneta faca
Deslizando levemente sob anatomia
Quase desconhecida
É um acordo que eu tenho
Com Deus e com o Diabo
Pelo que ouvi dizer do purgatório
Este seria o melhor lugar para mim
Ah... Quem ouvisse minha voz
Diria de mim que perdi a cabeça
Que digam, mas que me escutem.

Ante Deus

Hoje não quero falar de um grande amor
De chegadas ou partidas
Não quero falar palavras vazias
Repetições e nostalgias...
E assim que os olhos põem
Em mim o tratado de encerra
Hão de dizer que em mim fui eu, sempre,
Nesse chão cárcere minhas últimas palavras
Compõem-se e se decompõem
Diriam de mim, lá se foi mais um louco,
Ririam de mim, a morte pra mim é pouco.

Ante o próprio Corpo

Confabulam, se misturam ao redor de um corvo morto
Murmuradores nocivos com seus véus e terços
Cuidadosos com suas línguas de ponta de lança
Afinal de morto não se fala mal, ética social,
Ah, mas por dentro pedras e aleivosias...
Sempre há quem dê ouvidos ao mentir
Quando para os bons serei inferno e fogo
E para os maus paz e paraíso
Mas se serei eu o que dizem
Como serei eu o que sou?

Ante os Amigos

Respondo: deixem dizer os malditos
Nunca se tem entrada para todos no circo
Nem toda terra que piso aponta caminho prometido
Ventura todos dizem que é preciso
Mas com a verdade são poucos a marcar batismo
Não entregarei o meu silêncio
As rédeas dos que se dizem Barões
Se eles pecam pelo desejo de manter corrompido
Todos os magros espíritos alheios
Morrerei pelo lampejo de ver acesa
A ultima luz de um lampião esquecido.

Ante os Inimigos

Sua mentira mastigada entre os caninos
São que em tudo que digo me amparo
De nobre verdade e de fieis amigos
Por minha desventura pode estar minha vida
Repleta de abismos e sonhos banidos
Mas não culpo a carroça pelo erro do animal
Então meus caros Nobres deste quintal
Como querem que haja dentro deles
Fé, esperança ou sorriso festivo...
Como falei a pouco ali bem atrás
Sua verdade apareceu de braços cruzados e fugidos
Gerando espinhos de dor e espíritos submissos.

Ante o Diabo

Antes de ir-me a morte um ultimo aviso:
Levantarão eles um dia para sangrar seu trono
Sem se importar irão todos os seus enforcar
Ladrões, assassinos e vossos meninos...
Pois abaixo de tantos mandos e desmandos
Escondem-se fezes venenosas e mal cheirosas
Não importará a eles seus corpos mortos
Ou o quanto Deus se sentirá ofendido
Servirão apenas para dar-lhes motivo
De único e verdadeiro sabor de ódio possuído.

Ante mim

Sendo, descansará aqui a paz.


Foto por Bart

segunda-feira, julho 16, 2007

Se eu morresse amanhã



Queria não ter que esperar
Queria te ver ao acordar
Me divorciar do não
E também do depois e do então
Queria saber dos seus olhos
O que eles vão dizer ao me ver
Queria saber do seu sorriso
Se ele vai me receber.

Ai mais que vontade que saudade de você,
Ai mais quanta hora que demora pra te ver.

Então vem me dizer
Queria tanto saber
Se você também vai querer
E se eu morresse amanhã
Teria o tempo à clemência
De fazer você chegar
Sendo assim dou minha vida
Pelo instante de viver
Meu agora com você.

Foto por Bart

domingo, julho 08, 2007

Ensaio II


...Para compreender preciso destruir, esquecer a forma e o sentido para qual foi concebido, não saber nada para saber o que é, ou acabo me afogando em outras águas que não a dos meus mares. Algumas partes da vida nos trazem mistérios quase indecifráveis, e ao primeiro olhar, o raso traz a resposta, o senso comum de estar inserido socialmente em um controle remoto de concordâncias e não questionamentos. Assim o destruidor acaba em solidão, excluído de um circulo, feito para ser circulo fechado, expulsa-o, mas o pior é sentir-se só de si mesmo, órfão da própria alma. Compreender não é aceitar, não é descordar, compreender é fazer transbordar o absurdo para depois bebê-lo. É o meu exercício diário, minha serie de três com dez repetições para cada membro do meu corpo magro. Compreender com o olhar o sentido súbito e único de estar em harmonia e concordância comigo mesmo...

Foto por Paulo Madeira

terça-feira, junho 26, 2007

O padeiro, o homem e a ex-mulher


O Padeiro:
De tão comum é apenas mais um
A mesma história se repetiu
Com aquele que outro dia riu
E agora chega sem graça
Pelo outro lado da praça

Como eu te avisei sobre ela
Agora não adianta lamentar
Ela só quer mesmo se deitar
E se negar aos olhos tortos
De quem se preza julgar

O Homem:
Deixa eu te contar
Assim ela se foi de mim
Às escuras pelas ruas
De enganos com fulanos
Com tantos nomes e telefones
Que em listas não se cabe
E jamais vão se acabar

Me deixa terminar
Assim me fiz sozinho
Caindo por descaminhos
De um desejo mesquinho
Até trocar um lar
Por alguém
Que nunca foi
E nem será
De ninguém

A Ex-mulher:
Me deixa ir embora
Enganada assim eu vou agora
Vendo no canto o anel partido
No peito um coração escondido
Nos pés a chegada do abismo

Mas hei de me levantar
Enxugar do rosto
O que não deveria sangrar
E levar meu corpo
A quem sabe o que é... amar.

Foto por Zé Pedro

terça-feira, junho 19, 2007

Sort


Sinto uma tristeza
Uma tristeza profunda
Que me queda os olhos
Assim como sono.

Sinto uma saudade
Uma saudade imensa
Que me rouba o ar
Assim como susto.

Sinto, sinto muito,
A arte de saber perder
De sentir dor sem sofrer
Sinto esse dom não ter.

Sinto o que sinto
Não minto
Sou como vou
Sou meu senhor.

E amém.

Foto por Sérgio P.

terça-feira, junho 12, 2007

Encontro




Será destino, será desvio,
Será sempre ou somente
Será você ou serei eu.

Pouco a pouco
Lado a lado
Um dois e par
Sem perceber
Viramos querer.

Seu olhar no meu
Meu olhar no seu
E agora já não tem hora
De dizer adeus

Te amo no silêncio
Das palavras não ditas
Te amo no momento
Dessa simples escrita.

Foto por Manu Coloma

domingo, maio 20, 2007

Novo testamento


E que presságios houve
De um amor em hora errada
Sinais na mais fina areia branca
Onde os pés um dia pisaram
A morte é o mar sem amor
Que furta de nós e oferta a outros.

A curva caprichosa do tempo e destino
Desata o instante mais longe entre soluço e choro
Lembra-me tua carne um arrepio
Dois a sós e desarmados
Por um amor em morte sem testemunha.

Veio sob nós o anúncio
De um amor que fizera
Um novo testamento.

Mas lá no fundo vejo novos namorados
Lado a lado, mão a mão, boca a boca,
Recebendo a sorte de quem um dia amou.

Mesmo triste, sorri.

Foto por Paulo Panicheiro

sexta-feira, maio 11, 2007

Ensaio I


...
Saber que um dia nada serei é saber que nada sou diante das coisas. A vida é maior que nós, o tempo é maior que a vida. A matéria não é nada mais que poeira formada por nossa imaginação particular vivendo em um determinado tempo e espaço. O que cada um vê é diferente em cada um dos olhos. O pensar é colocar para dentro coisas que são de fora. Pensar sobre a vida quando o importante é senti-la, pensar sobre “o que será” quando o que importa “é o que sou”, e qualquer dia chega nesse dia findo o fim de todos os dias. Sendo, não importará mais a vaidade ou a avareza, o esquecer é obra do tempo que o tempo não esquece. O que eu sou importa a mim enquanto durmo o que você é não importará nunca a mim, o guardador do nosso sono é único dentro de nós, e única é a forma como habitamos a extensão do nosso corpo, andar em acordo com o mundo é estar em desacordo com nós mesmos...

Foto por João Santiago

terça-feira, maio 08, 2007

De tudo um pouco


De tudo fica, fica um pouco,
Um pouco de luz no teu rosto
E de amargo no fim do gosto.

Um pouco de adeus nas mãos
E alguns gestos em vão
Ficaram poucas, poucas roupas,
E muito, muito a dizer ainda.

Mas de tudo fica um pouco
Um pouco de cigarro
No maço amassado
Um pouco de álcool
No copo quebrado
Um pouco de descaso
Pelo que traz o acaso
E de tudo fica um pouco
Um pouco de teus olhos
Nos olhos de tua filha.

Um pouco de nosso pó
Um pouco de nosso gozo
Nas camas dormidas
Pelas noites traídas.

Fica um pouco de tudo
No presente, no passado,
No futuro, dentro do corpo,
E em nossos retratos.

De tudo fica, fica um pouco,
Um pouco de vazio
Na lembrança sempre viva.

Foto por Bruno Espadana

sexta-feira, abril 27, 2007

A máquina e o homem


Pensei em acordar e viajar
Passar por esse tempo mesquinho
De homens e máquinas a produzir
Cascas humanas enferrujadas e amargas.

Se me lembro do meu tempo infante
Lembro de tudo mais leve, mesmo
Naqueles que barba e bigode escondia
Existia gesto e olhar assim, feito poesia.

E agora que brinquedo inventar
Para elevar ao sonho tantos inumanos?
Produzirá a tecnologia de hoje
Invento que possa o humor modificar?

Sinto, cada qual terá que o seu criar,
Não há fábrica ou Deus que o faça.
Aonde comprar, como pagar,
Por um brinquedo que não tem preço.

E chama-se simplesmente alegria!

Foto por Mariana Vasconcellos

sexta-feira, abril 20, 2007

Nos Trilhos


Nos olhos
Dos olhos
Cheios de vazio
Vaga o ardente,

Nos olhos
Dos olhos
O escuro
Engolindo luz,

Nos olhos
Dos olhos
A certeza
De pedra imóvel,

Nada dizem
Nada sentem
Tudo mentem
E assim tudo morre,

Sendo servos
Do amor
Que é
Cúmplice de Deus.

Foto por Paulo Fernando

quarta-feira, abril 11, 2007

A cada dia


Todos os dias eu te vejo
Salvo os que morro
Quando não me reconheço
Mas como te amo.

Amo mesmo você
Ou será engano?
Ilusão de ser humano
Por pernas, seios e ombro.

Amo tão forte
Feito dor de corte
E quando me desfaz
Um menino chora.

Quando rindo, dançando,
Miro teus falsos passos
Ante o tropeço, antes a queda,
Corro, te alcanço, te protejo.

Amor de cavalheiro
De um século e meio
De durar o ter e querer
De ir até o fim de mim.

E se segue o amor,
O que compreender?
Somos o numero perfeito
Um resultado de dois.

De um amor tão disparado
Que sempre chega primeiro
Antes do orgulho e desanimo
Ou da má noticia do carteiro.

Não sei quanto me custa
Manter esse sentimento
Nunca me fiz pergunta
Sobre algo que desconheço.

Apenas lembro me deixar invadir
Por dois olhos certeiros
Por um coração cheio
E um colo vazio.

Amo a mesma, você,
Amo o mesmo amor
Que se reinventa
Só para me fazer...
Continuar te amando.

Foto por Bruno Miranda

segunda-feira, abril 02, 2007

Conversa de dois cegos (Resposta)


Eu já fui um pouco melhor...
Mas continuo melancólico e imaturo...
Uma folha, bem verde...
Que teima em não amarelar e cair.

Acabei de ler, me arrepiei,
Senti meu rosto e meu corpo esquentar.
Sentimento diferente ver o que está presente
Somente no meu canto se transportar.
É como se alguém tivesse me tirado a roupa.

-Obrigado por suas palavras, pelo carinho de sempre.

-Tem um banquinho pra você no meu coração.

-Então só pra ser diferente, no meu tem uma arvore,
Com sombra e recosto, com vento leve e fresco.

Acabei de reler mais uma vez...
Meus olhos estão salgados...

...E mais uma vez, muito obrigado.


::resposta as doces palavras da grande amiga Aline,
escritas no blog de sete cabeças::

Foto por Mariana Maltoni

quinta-feira, março 22, 2007

...sobre todas as coisas


Oh menina aflita o que fazes deste lado escuro da calçada?
Tentando tapar os buracos tristes desta tua varia estrada,
A margem dos caminhos vendo ir sozinho teus passos sombrios
E recordando do tempo os dias de luz mansa clareando teus desvios.

Deste longe alteio segue minha prece ante o dia madrigal que acontece,
Peço crendo com fé para ti alcançar o que a vista não há de ver,
Que a razão não te leve para o lugar breve do pensar e não sentir,
Desassossego puro de um coração puro ao encontro do desistir.

Oh menina rica porque continuas aqui sempre descalça
Passando pela pressa do fazer mesmo sem saber o porque?

Pobre alma de pranto vivo a embaçar tuas lentes e meu sorriso.
O mais triste é saber que são verdadeiras tuas lágrimas minhas,
Que vão se espalhando, esfarelando, por aqui e ali sobre todas as coisas,
Feito pó de asa de mariposa que o vento vai e leva a contento.

Obrigado menina, por vir até aqui mesmo sem saber se eu viria.
Digo, belo são seus anseios, assim tão finos como a palma de uma criança.
Oh menina, só não queira para si uma casa de acasos com quartos vagos,
A sorte é algo frágil na roleta da vida, quando pensas que a tens,
cai logo em seguida...

Foto por Bruno Miranda

segunda-feira, março 19, 2007

Espantalho


Vejo meus olhos sepultados lado a lado
Debruçados a beira de um caixão alugado,

Tento mesmo que inutilmente fazer brotar
Aquele que um dia desejou aprender voar,

Ao meu lamento um desalento se segue
Por não poder mais chorar dor e sangue,

Pus meu gesto de adeus na paisagem
Como quem distorce a própria imagem,

Roubaram-me o lado sentido de dentro
Venderam-me o lado racional ao centro.

...Eu tinha algum olhar
...Eu tinha algo a dar

Foto por Artur Franco

terça-feira, março 13, 2007

Amém


Chegou o fim, o fim de tudo,
O abismo do mais profundo
Chagou fim, o fim do mundo.

Pobre mistério de nós
Enterrados como ratos
No subterrâneo convés
De nossas próprias galés.

Ossadas decoram de branco
O que antes era quase humano.

Nada lembra o que é azul
Quem voa se despede
Graça sucumbida
Cai e morre.

Rolam dos morros bolas de fogo
Tons de cinza cobrem nossa ida.

Se foi a tecnologia nômade
Errante a cada novo desastre
Prestar contas ao Diabo
Pelos honorários pagos.

E tudo se recordará de ontem
Quando os gestos eram ao vivo
Quando os livros eram escritos
Quando os poemas eram lidos.

E tudo recomeçará de novo
Descobertos por arqueólogos
Escafandristas, Niilistas,
Futuristas em questão.

Será tudo estudado, interpretado,
Analisado, questionado.
Do primeiro amor
Ao ultimo suspiro.

Mas só, se reinventarem os poetas, entenderão.
E nós descansaremos, finalmente, em paz!

::Dedico a todos que passam ou passaram por aqui::


Foto por Paulo Madeira

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Canção (Como era antes do fim)



Se não é e me faz mudar
Deixa ser e me encantar
As cortinas abrem os dias
Por vias que vão me levar
Deixa eu estar com você
Deixa eu ao menos querer.

Duvidei do que enfim seria
A lembrança de te encontrar
Saudade desenha tuas linhas
Por coisas aqui esquecidas
Abrindo um estranho mundo
No baú do mais profundo.

Mas...

É preciso saudade
Pra eu te sentir
É preciso distancia
Pra você estar aqui.

Pois...

Quando chegas és outra
Que não a do teu retrato
Deixa eu fechar os olhos
Deixa eu te ver melhor.

Foto por Bruno Espadana

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Basquiat




















Sempre sonhei muito, dormia sobre o tempo e sem percebê-lo passava abaixo de mim levando meu corpo ao encontro do repouso e minha mente ao colo da preguiça. Até de sonhar me canso, mas nunca me canso de ter sonhado. As horas mortas enterradas por mim me tiraram o peso da realidade e da conformidade que sempre me roubam o sono como quem dorme em uma casa mal assombrada. Acordei hoje cedo revendo a vontade de continuar debruçado nestes livros, relendo as paginas de alguém que não quero me tornar.
Pergunto porque persigo o que não quero? Porque os demônios imperam na realidade, e na realidade os anjos dos sonhos não vivem para nos salvar. Dia que parar de sonhar, morri, entreguei-me a náusea da vida, receitei-me um remédio sem efeito para morrer levando comigo minha pior dor, a dor de viver em mim.
Jean Michel Basquiat 22/12/1960 - 12/08/1988

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Chiiiiiiiiiiiiiiiiiiii














Sonhei e vi assim a vida olhando por mim
Ouvi da lembrança à ausência de ti
Selei na memória a falta da nossa história
Levantei me fazendo crer em vão
Há distancia entre o meu sim e o seu não.

Passa longe sua culpa pelo meu penar
Passo longe da sua rua pra não me causar
Imenso pesar.

Não vou me vingar e te virar do avesso
Sozinha confesso meu desejo
Vou provocar o teu descaso
Vou esconder de ti tudo que faço
Deixar a saudade acordar também do seu lado.

Foto por Graça