sexta-feira, março 31, 2006

Sobre um amigo




















Como é difícil sorrir quando a dor é aqui
Não é raro ver ao lado à vontade ceder,

É preciso muito mais que razão
Não se engana um arranhado coração,

Pelo vão de uma boca se alcança a forca
Desaparece a força de levantar e seguir,

Sei de tudo, sei da intenção de mentir,
Mas sei que é assim, que dói assim

Feito espinho apertado com a mão
Sei, sangra, sangra em mim,

Mas toda dor tem sua cura
Não só com espera se desfaz,

Fez-se mar minha rua, fez-se perder os dois,
Eu sigo, levo o nó, vou pelo mar, e vou só.

Foto por Zé Pedro

Sobre estar só













A chuva cai assim tão devagar
No mar de ondas sou eu a remar
Isso que digo é sobre estar só
Então vou ser claro em lhe dizer
O que quis foi não querer
Tudo por medo de perder

Um corpo vazio no canto escondido
O doce da vida pra mim é amargo
Por saber que meu amanhã é ninguém
Indo mais além outra mão não se abriu
E pra mim é simples assim
Se estais triste
Como podes querer
Fazer alguém feliz

É a tristeza que não quer sair
Teima em querer pedir
Por mais uns dias ficar e chorar
Eu repito para com isso e lhe digo
É sobre alegria que se constrói o sonhar

Então
Quem vai me querer
Não vem me querer
Assim
Não vou encontrar
Em quem dividir
Encostar em quem
No fim.

Foto por Paula Fogg

quarta-feira, março 29, 2006

Avante!




















Olhos verdes
Desculpe-me
Por perder algo da realidade
Nem sempre meus pés estão
Salvos deste chão

Olhos verdes
Desculpe-me
Por nem sempre perceber
O tamanho do sonho imperfeito
Repousado no altar do seu peito

Vou colocar um sorriso nos teus lábios
Não perder tempo com conselhos sábios
A certeza da razão apenas constrói perfeição
O que seriamos sem os descaminhos do coração
Algo com olhos vazios e mãos mesquinhas
De certo interlúdios com notas sozinhas

A verdade é que sinto falta da parte que me falta
Sinto a perda de não saber sobre o poder de me perder
Me ensina ser sem perceber por onde vão meus pés
Deixá-los ir é não saber até onde podem chegar
É muito maior que desejar um lugar.

Foto por Manu Coloma

terça-feira, março 28, 2006

Reinventar














Ainda lembro
Do dia que te vi
Ainda lembro
Do dia que te escolhi

Sem lugar pra ficar
E como esperar
Achar um dia você

Ainda lembro
Do dia que te perdi
Ainda lembro
Do dia que morri

Sem lugar pra ficar
E como esperar
Amargar um dia você

Ainda lembro
Como foi fácil chorar
Difícil dormir e acordar
Mas tenho e vou deixar
Más lembranças pra lá
Vou tentar me reinventar.

Foto por Manu Coloma

quinta-feira, março 23, 2006

Em algum canto quieto




















O que sou cabe em mim
Por isso existo no silêncio
A cortina esconde o palco
Horizonte não revelado
Mesmo assim há alguém ali
Atrás do verbo atado.

E porque mantenho meu silêncio
Por que sou como a natureza
Escondo-me quando não tenho só a mim
No calar casto decoro minha alma
Reservo-me o direito de ser tímido aos olhos
Aconteço quando ninguém está por perto.

Foto por Hugo Delgado

terça-feira, março 21, 2006

Em pedra















Onde foi você
Que eu não vejo mais
Desde outros temporais
Onde está você
E o porque
Ir sem nada a dizer
Estou como pedra
Enterrada na terra
Ainda sem ninguém
A minha espera
Vem e faz volta
Atire-me ao mar
Pra eu nunca mais voltar
Como pedra no coração
De alguém que não consegue perdoar.

Foto por Bruno Curvello

quarta-feira, março 15, 2006

Á dois















Amigo,

Mesmo de longe te tenho aqui comigo
A presença é pouco pra quem ama tanto
Do que me serviria o coração se não
Guardar em mim os negativos
Visto pelos meus olhos
Através da luz do seu sorriso,

Mesmo sem destino e aflito
Percebo a falta que me faz
E a tristeza nunca é de mais
Pra alguém que se sente só.

É amigo,

Vai tudo de mal a pior
A nêga não teve dó
E me largou
A febre que tenho
Ainda não baixou
O emprego de outrora
Dele fui mandado embora
O que mais há de dar errado
Eu que da vida sabia um tanto
Agora me banho em pranto.

Volta amigo,

Peço que regresse
Por meio desta carta
Em forma de prece
De longe não percebes
Esses meus dias malditos
Feito praga em plantação
Transformando o antes sim
Agora em não,

Segue meu endereço e todo meu apreço
Junto o desejo que tu estejas bem
Me desculpe a maneira de escrever
É que meu mundo anda meio turvo
Quero te ver logo chegar
Calmo como a madrugada
Poder sentar e conversar
Sob o manto da alvorada
Destilar pelas palavras
Minhas mágoas pelo ar.

Foto por Luis Pinto

segunda-feira, março 13, 2006

Retrato 15x20




















Se você revelasse o seu amor
Eu chegaria aonde nunca ninguém chegou
Eu seria bem maior do que sou;
Se você revelasse o seu amor
Eu estaria de pé na pedra mais alta
Dizendo ao mundo que o mundo é meu;
Se você revelasse seu amor
Eu correria sem me cansar
Eu estaria ante sua porta portando uma flor;
Se você revelasse seu amor
Eu não pensaria nem mais um segundo
Eu seria sempre alegre esquecendo de ser triste;
Se você revelasse seu amor
Eu provocaria uma briga
Só pra você torcer por mim;
Se você revelasse seu amor
Eu chegaria em casa cedo
Dispensando amigos, bar e futebol!
Se você revelasse o seu amor
Eu acordaria sempre primeiro
Só pra ver você dormir;
Se você revelasse a minha dor
Eu saberia agora onde estou
Eu não estaria perdido de amor.

-Que linda tragédia é a embriaguez do amor
Eu mais que tonto querendo ser o que não sou
Mas se ao menos eu visse o seu olhar
Mas porque está tão distante dos meus?
Mas se ao menos pudesse seus braços alcançar
Mas porque são tão ausentes dos meus?

Foto por Fernando Manoel Oliveira

quarta-feira, março 08, 2006

Quatorze de julho...sorria!














Sorria
Por ter mais um dia
Por não ser o seu dia
Por não ser a vadia
Que varreu meu coração

Sorria
Por ter moradia
Por ter harmonia
E o mesmo lar
Todo dia

Sorria
Porque não eu
De sobrenome heresia
No desencontro da agonia
Encontrei ao menos poesia

Não se escraviza a vida
Por um dia de sangria
Essa eterna mania
De sofrer o erro
Antecipando o fim
Estando só no começo

Sorria
Mesmo assim
Sorria
Não há de durar
Tristeza não há de ficar
Sorria
Sendo assim enfim
Sorria.

Foto por Samira Gasparini