segunda-feira, dezembro 26, 2005

Andar cabeça baixa




















Alto lá aonde vai?
Com esse andar cabeça baixa
Avisa lá onde for
A vida é muito curta pra viver
E longa demais pra morrer

E nesse vôo eu vou por onde duvidar
Na espera da mudança desse mal me quer
Que sem querer tomou esse céu daqui
E de tristeza chorou no chão de lá

Acredite em mim eu também não sei
São tantas portas abertas
Com muitos infinitos depois delas
Quem disse qual é a certa mentiu
O caminho é mesmo sem destino
Do que resta só nos resta tentar

A gente esperando do mundo
E o mundo esperando de nós
Mas e o coração onde está?
É dele que sinto saudade.

Foto por Mark Freedom

sábado, dezembro 17, 2005

Morte em vida de enganos e desenganos














Vai com Deus e com meu adeus
Vai levando tudo
Tudo de mim!

Os meus olhos tristes
Leve-os para ti
Porque já não cabem mais aqui
Lágrimas e traição

O meu sorriso escondido
Deixe-o ali
Vou guardá-lo até ter
Alguém que o mereça ver

O meu coração empedrado
Vai ficar esquecido
Como pedra jogada do alto do abismo
Perdida pra sempre perdida

Minha esperança segue dormindo aflita
Morreu a ânsia de dizer minha querida
Morreu o eu
Morreu o você

Enterrados juntos sob a mesma frase
Quem não vive o amor
Dia a dia adia a vida.

Foto por Bruno Miranda

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Esses dias de silêncio




















O que fica gravado no ouvido
Aquilo que fica deitado no colo
A batida do pé no chão não demora
A boca cantando bem alto lá fora
Canção que eu não esqueci
Samba canção pra você de mim
Sou eu aqui pedindo atenção
Nesse meu jeito calado de canto
Desse meu jeito sambado de branco
Cintura dura de pouco balanço malandro
Mas eu vou mesmo de lado, calado, chamando
Te chamo porque amo um tanto
É que sou mesmo assim
De muito olhar e pouco falar
Essa é a verdade do meu silêncio
O meu silêncio só quer te escutar.

Foto por surpresa atrás da porta

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Padecente







Hora é a senhora do tempo
Vingança em foice de vento
Ceifando os fracos por todos os lados
Sorriso dos nobres por todos os cantos
Chegaram aqui por não saber por onde ir
É tudo cenário de pecado
Cortejo de sepultados
Falsos cadafalsos se movem sem parar
Entre loucos andantes de mente sã
Olhares impávidos trêmulos de dor
Sábios oradores leitores do fel
Ricos miseráveis de palidez azul
Envoltos pela luz cega da Meca do clã
São muitas cadeiras e poucas mesas
Sem ninguém a jantar e todos com fome
Nada de céu e muitos anjos a gorjear
Vão pelo alto sem ver os caminhos em moinho
Não se importam e cortam suas asas tingidas
Do longe voltam catando gente como que milho
Jogam as migalhas escravas rasteiras como serpente
Mentem, e mentem, e mentem!
Continuam convertendo
Convencendo essa gente que não é mais gente.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Quando um é par















A gente aceita quando escolhe
A velha receita se descobre,

A gente cansa de ver
E não acredita como é simples viver,

A gente não morre pelo que vê
A gente só morre pelo que crê,

A gente não vive sem um sonho
Tão só vivem loucos sem sonhar,

A gente quer amar
Como se viu na foto
Com por do sol e mar,

Mas a gente se perde na luta
Que não pede pra lutar,

A gente ainda consegue sorrir
Mesmo sendo sorriso sem motivo,

A gente se obriga a continuar
Mesmo sem ter por onde caminhar,

A gente corre sem cair
E cai tentando seguir,

A gente dorme esperando acordar
E acorda querendo dormir,

A gente canta querendo encantar
E quando encanta quer desencantar,

O que a gente quer?
Querendo sem saber
Quer ter, tem que cuidar
Porque a gente não pode descuidar
De quem está do lado de cá,

A gente nasce e morre pequeno
Vive pouco cada momento,

Na paisagem do tempo
Rugas e um olhar sereno,

Mas a gente continua
E a cada dia muda,

Muda-se à distância
E aqui a gente se cala,

Adormece na luz fraca
E indo assim
A gente se ama
Feito filme de herói
No fim carrega a dama,

A gente vive e deixa viver
A gente é gente
E cada um sabe o que sente
E cada um se pertence.

Foto por surpresa atrás da porta

quarta-feira, dezembro 07, 2005

autópsia















Onde está você que se foi
E já não vejo mais em mim
O tempo levou e nem percebi
Quando não estavas mais aqui
Tão longe quanto as sombras
No meio das ondas a desmoronar.

Oh parte amarga de mim
Oh parte surda de mim
Não percebe mais a voz
Rangendo neste inicio de fim.

Mesmo assim procurei minha forma
A norma que um dia me guiou
E o hoje é passagem de ida
Entre caminhos fingidos
De vozes teimando em chamar
Por alguém que não está mais aqui.

Pois então onde está você
Onde está aquele que a voz persegue
Secou, ruiu as aparências visíveis.

Oh parte escondida de mim
Oh resto nefasto de mim
Só me fez capaz de ser
Memória esquecida de mim.

Afaste-se porque quero pisar com meus pés
Tudo aquilo que renunciei e enviei ao fogo
Não saberei quando me verei novamente
Não mais que contente me desfiz em um só partir.

Desfez-se então tudo que refletia em meus olhos
O resto que ali sobrou fez-se lagrima e ultima
Palavras já não entendo e vozes já não escuto
Dia após dia me desfaço inutilmente tentando me conservar.

Não precisarei mais falar e nem sentir
Porque tudo nunca esteve mesmo aqui
Só apaguei as máscaras e as fantasias
E nesse tempo conto o tempo perdido
Aprisionado no castelo da minha existência.

Foto por surpresa atrás da porta.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Bons sonhos









O que fazer? O que sentir? De que lado estar? A onde ir?
O que responder? Como fazer? O que ver? Como conseguir?
Perguntas?Respostas?
Não sou eu que vou dizer
São eles que controlam você sem você nem mesmo saber
Escolheram suas cores, suas bandeiras e seus ideais
Só esqueceram de escolher o melhor pra você
Plantaram as estrelas acima do céu de horror
Basta olhar os lados afastados e ver
Como cada um sangra por sua ganância
Basta chorar pra sentir aqui
Eles recolheram suas lágrimas não te deixando reagir
Esses deuses matam enquanto nós temos outros planos
Você age em vida quando vive seu sonho
Abra seus olhos, desperte do sono!
Você age em vida quando vê onde estamos
Continuamos assim a promessa de não envelhecer
Continuamos sendo até o fim meninos humanos
Tudo que deixamos de ser pra ser o que somos.

Foto por Bruno Miranda