quinta-feira, abril 27, 2006

Um pedaço de mar















Marinheiro viaja o mundo inteiro
Atrás de um simples desejo
Procurar por cada porto
Seu par verdadeiro.

Pelas mãos do timoneiro
Teve o destino refeito
Lá onde a sorte não tem dono
Mirou um olhar estrangeiro.

Foi de uma vez reinventado
Deixou o coração batendo
Em um só porto ancorado
Viu o que é solitário e amargo
Ser enfim afogado.

Foto por Dorival Moreira

terça-feira, abril 25, 2006

O que não penso














O que penso
A quem importa
O que penso,

Se não a mim
O que penso eu.

Não deveria ninguém
Se importar o que alguém
Haverá um dia pensar,

Importa sim
O sonhar.

Porque quando penso
Morro,

Enquanto sonho
Renasço.

Então o que tem eu ou você
De querer escutar o calar,

Se não se mistura
Inteligência e amor
Deixa ser como for.

Foto por Lilian Martins

quinta-feira, abril 20, 2006

Salvo














Rejeito em mim qualquer atenção
Meus olhos são arabescos de Deus
Enxergam mudos minhas palavras de adeus.
Junto com o tempo inventa-se desculpa
E a falta de tempo para esconder angustia
Eu vivo por mim, não me chame de egoísta
É a minha forma de dizer que não vou viver
Como me dizem ou quando me convém.
Sou desertor do mundo, conquistador de mim
Vou ser eu em tudo que sou aqui dentro
Longe dessa casta conservadora e ordinária.
O contentamento dessa gente sem sangue e pálida
São como rostos fotografados em cor maquiagem
Eu aqui tão pouco não sou janela e nem pedra
Não sou saudade ou ausência, apenas presença
Estou aqui sempre reconstruindo a mim.
A duras penas um eu com coração em mente
Um retrato enquadrado para um espelho de cegos.
O perdão faz muitos seguirem em frente
A culpa é a escolha de se tornar escravo
E deixar mais um sonho ser amputado.
Minha opção é entender o que sou
Para aceitar o que realmente quero
E se eu vou, vou saber que me espero.

Dedico a um grande amigo e nossas conversas no sofá em uma tarde de futebol.

Foto por Mariana Maltoni

terça-feira, abril 18, 2006

Tempo?
















Olha a hora
Hora de deitar
Olha a hora
Hora de acordar
Hora pra dizer que horas
Bora ver aurora
Hora de sol esquentar

Hora pra fazer hora
Hora pra atrasar
Hora de perder hora
Hora de irritar
Bora trabalhar
Ora já são nove horas

Hora pra marcar
Hora de desmarcar
Hora pra não cumprir
Hora de sumir
Hora de não desanimar
Hora de continuar
Bora reagir

Hora de ir
Bora almoçar
Hora de dormir
Meia hora pra descansar
Já é hora de voltar
Hora passa logo
Hora demora a chegar

Hora que nada
Hora errada
Hora de aceitar
Tem horas que não passa hora
Hora de orar
Chega hora de parar
Hora de acertar e errar
Hora de esquecer o tempo
E viver o grande momento
A vida.

Foto por Carlos Henrique

quinta-feira, abril 13, 2006

Quadro em preto e branco














Pincel na prateleira no copo sujo de água turva
As tintas coloridas estão guardadas no porão
Pelo menos minha memória ainda grava
Onde me deixei e por onde as coisas estão

Escolha seu pote
Encontre na sorte
Derreta e misture uma cor
Já que você chegou cubra seu olhar
Cegue com a mão seja qualquer dor

De costas ou de frente enxergo
Além da moldura sobre o quadrado
Entre o espaço traduzido ao lado
A cadeira aguarda no canto molhado

Família reunida ao redor da mesa
Coração em oração por mais um dia
De rotina satisfeita com a certeza
Que tudo sempre vai se repetir

Aquela criança que tudo sabia
Não cabe mais aqui
Peguei minha sela
Não me prive da descoberta
Só descanso quando ver
Meu chão parar de tremer

Mas meus inimigos onde estão
Será que todos camuflados
Pelo brilho do sorriso
E mais um aperto de mão

No correr da hora
Nem vi a noite entrar
Depois de tanta aquarela
Resolvi mesmo simplificar

Fiz um Sebastião Salgado
Preto no branco enquadrado
Fiz uma mistura do que sobrou
Sempre atrasado congelei o vazio
De sua ausência no retrato.

Foto por Bianca Pimenta

sábado, abril 08, 2006

Desejo uma fotografia




















Desejo uma fotografia igual a esta escondida a minha espera, uma imagem onde o momento se congela, os rostos não desaparecem, onde o amanhã não escurece, onde a esperança é algo que ainda vai chegar porque ainda não há desilusão vindo com a vida, não há miséria ou injustiça, apenas eu, você, circo e alegria.
Você vê? Você vê a foto? Para sempre sorrisos, abraços e fantasias! Para sempre festa com bolos, doces e velas! Para sempre olhos contentes com cores presentes! Para sempre todos nós de um jeito que não somos mais!
Você vê? Você vê a foto? Quero ser parte dessa fotografia na qual o mundo ainda não arrombou as portas, não assombrou as glórias porque ainda não existia maior vitória se não o primeiro pedaço de bolo das mãos da menina bailarina dona da festa e de tantos outros pequeninos corações.

Foto por Lampreia

quinta-feira, abril 06, 2006

Um dia...(Um samba)















Ah um dia...
Um dia ainda
Vou ser poeta,
Vou ser artista,
Vou ser cantor,
Aparecer na revista!

Em qualquer esquina
Vão lembrar de mim
Ler para seus filhos
Todos meus artigos,
Vão comprar os meus discos
Cantar meus hinos,
Me fazer elogios!

Vão me tratar como amigo
Sem nunca terem me conhecido,
Vão pedir meu telefone
Por só saber o meu nome,
Vão me convidar pra jantar
Somente pra ouvir o meu calar!

Ah um dia...
Vão querer minha assinatura
Sem eu ao menos ler partitura
Vou ser dito,
Vou ser mito na minha rua,
Vou sair dessa amargura
Sufoco de fim de mês
Vou ser freguês de Maison!

Um dia cai esse fardo
Mas não vou querer despir
Meninas de fino trato
Vou querer sempre
Quem esteve a meu lado
Mão esquerda à direita
Dividir comigo o reinado!
Ah um dia...
...Um samba.

Foto por Paulo Custodio