quarta-feira, novembro 12, 2008


Treme tudo treme tudo
Meus ossos minha voz em prece
Minha lágrima por minha alma desce
Treme tudo treme no meu mundo

Quero ter a visita da sorte
Mas improvável como o acaso
Melhor dormir e engolir o fracasso
Sonhando um sonho sem corte

Dormindo na ilusão de amar
Finjo existir no sonho
Silabas de um coração a cantar
Músicas para se esquecer

E a vida enterra sobre a vida
A mágoa eterna de viver
Vendo a vida morrer
No sono sonhado da vida

Treme tudo treme tudo
Treme tudo tremo mudo
Durmo eu sem sonhar
Os sonhos que tenho.

Foto por Rodrigo de Sousa e Vasconcelos

sexta-feira, outubro 24, 2008

Irmão




E eu nem sei o quanto somos irmãos
Mas sei se pudéssemos ser seriamos mais
Desde criança até outra encarnação.
Lembro dos dias de bola, jogos antigos e televisão,
Dos sonhos, dos medos e de pegar na minha mão.
Das pranchas de isopor e dos patins no Zépellin,
Cabanas na cama e travesseiros mortais
Dos super-heróis e capas que não temos mais.
Somos ainda moleques de tantas historias
Guardadas na memória desses dois sempre irmãos.
É que deu vontade de te chamar, de correr e pular,
Pique esconde na rua e me esconder no seu lugar
Vem pra cá brincar me abraçar e começar tudo de novo.

- Tem pessoas pelas quais daria uma vida,
Por você eu daria duas. Te amo sempre.

segunda-feira, agosto 11, 2008

Crayon




Quero abrir meu compasso
Esquadro com vista para o mar
Escala para um novo abraço
Daqueles que formam par

Já vejo com distancia infinita
Aquilo que hoje é folha maldita
Entre rascunhos de dor e cansaço
De um retilíneo e desbotado traço

Uma historia de caligrafia torta
Descrita com mãos de aço
Sem despedida e sem abraço
Com capa dura de alma morta.

Mas antes uma borracha bem vinda
Naquilo que dizia linha já escrita
Hoje ando a procura de cor de tinta
Para um novo desenho de vida.

Foto por Roberto Cicchine

terça-feira, agosto 05, 2008

...em outra vida


Amanhã não estarei mais neste corpo
Ainda sim rezarei para que venhas
E aos meus pés lagrimas não detenhas
Ao descobrir que dessa vida somos um sopro.

Diante da minha gelada presença
Não despertarei nem com seu grito
Darás conta que me transformei em mito
Uma assombração que ainda em ti pensa.

Estarei presente em teu sono doce
Não em forma de carne e sim de espectro
Sofrendo por ter chegado tão perto
E nunca ter lhe dado o que trouxe.

Passarão anos e em teu peito me tornarei sombra
Chegando de leve sobre teu sonho lhe verei nua
Tortura de me fazer sentir ainda mais a falta tua
Guardada em meu coração que só por ti tomba.

Foto por Filipe Arruda

segunda-feira, julho 28, 2008

Sem Tempo


O tempo seca tudo nesse mundo
Amor e beleza estão fadadas
Secam as tolas lagrimas
Das lembranças guardadas.

Esperarei em outro tempo
A esperança que não vejo
Trazer consigo o passado
E pelo vento meu desejo.

Não demore em encontrar
Nosso lugar mais que secreto
Peço-te pressa meu amor
Pois amanhã morro incompleto.

O tempo seca o que foi dito
Faz tudo ficar esquecido
Apareça enquanto a reconheço
E antes do tempo cobrar seu preço

Apresa-te amor, apresa-te.

Foto por Jea

segunda-feira, junho 30, 2008

O que se perdeu


Para onde foram minhas palavras
Elas que passavam por mim
Fogem de mim agora.

E não estar é estar de outro jeito.

Parece que perdi o olhar das coisas
Parece que sou outro que vaga
Pesa em mim o que não pesava.

Também é ser, deixar de ser assim.

Preciso voltar a entender
A ilusão mesmo que desbotada
E talvez a alma amanheça.

Quando perder, será também lembrar.

Caso alguém ache minhas palavras
Espero que nelas reconheça
A doçura de sofrer e o dom de amar.

Obrigado.

Foto por Gonçalves

quarta-feira, maio 14, 2008

Pra depois


Sonhe sempre se assim se sentes viva
Mas longe de seu sonho sei que és iludida
Deixando a vida morrer o sonho da vida

Então depois não me cobre
O que esta vida irá te cobrar
O tempo passa e não para de passar.

Na noite em que o sonho veio
Não deixaste acontecer
Agora vive se perguntando
Como haveria de ser

Eu e você.

Foto Rattus

quinta-feira, abril 24, 2008

Pedro


Eis que surge Pedro Doutor
Olhos de ator e voz de cantor
O que se sabia era de sua fama
Amantes não lhe faltavam na cama.

Pedro a todas enfeitiçava
Fazia maridos morrerem de raiva
Como era da cidade único doutor
Medicava mulheres ardentes de amor.

Homem assim nunca se viu
Nem na Bahia tão pouco no Rio
Possuía Ana, Joana e Maria,
Só não tinha quem ele queria.

Era ele o que todo homem desejava ser
Sem saber que Pedro vivia a morrer
Do coração fez enterro quando descobriu
Que seu único e verdadeiro amor o traiu.

Foto por Marta Ferreira

quinta-feira, abril 17, 2008

Simples como é


A minha alma é simples e não pensa
Pois para mim não há o que pensar
Só há o olhar o ver e o sentir
E viver é não parar para pensar nisso
Uma alma simples como a minha
Nunca lerá dos teus lábios
Nada além das palavras que dizes
E não interpretará do teu corpo
Nada além dos teus gestos
Aprendi compreendendo o que sinto sozinho
Que não há coisa alguma para se compreender
Tudo é exatamente o que é para ser
Sinto que não consigo ver o por trás das coisas
Pois para mim não existe o por trás
Existem somente as coisas.

Foto por Sweetcharade

terça-feira, abril 15, 2008

Queda?


Será arte da fatalidade
Ou ato de maldade
Sobre quem cairá
O ônus da catástrofe

Soa o gongo da discussão
Começa a batalha judicial
Nomes técnicos, encenação,
Acusação, defesa e indignação.

A menina ficará morta
Mas como ficarão os vivos?
Os culpados juram inocência
Os inocentes serão culpados?

Foto por Ricardo Costa

sexta-feira, março 14, 2008

Menina passada


Já tive por ti grande admiração
Era das coisas a coisa mais rara
Pergunto-me porque mudaste de cara
Se não muda o coração
Reparo tua feição
Reparação tão desmedida
Mais dura e mais perdida
Como não ter desgosto
Adorava tua beleza
Foi como mudar a natureza
De tão mudado está seu rosto
Não sei se terás o mesmo gosto
Desculpe a sinceridade minha Senhora
Saiba que nem tudo é perfeição
Queria mesmo ver a menina de então
E não a menina de agora
Como fica quem lhe ama e adora
Desde o demoradamente
Como fica essa gente
De alma tão apaixonada
Trocar menina passada
Por menina presente.

Foto por Manu Coloma

sexta-feira, março 07, 2008

“I Am Mine”


Não vou mentir e dizer que tudo posso
Em mim sei aonde a verdade se esconde
Vou descobrir o manto e alcançar o ponto
Pois sábio é aquele que se cala para se ouvir
Ignorante é aquele que nega a se conhecer
Porque a maior ignorância é a de si mesmo.
Afinal o que um passo a mais pode me dar
Que minha alma já não tenha me dado
Se essa é a hora de parar me renderei
Levantarei meus braços diante de mim.
Feliz de quem possui a vida completamente
Triste de quem a possui parcialmente.
Posso ter qualquer riqueza, mas não de alma,
Porque a única riqueza de alma sou eu
E não há paisagem se não o que somos.

Foto por Dyna Hoffmann

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Quero Assim


Dar sorriso sem motivo
E flores sem ocasião

Abraçar tão forte
Só pra sentir o coração

Não pensar no dizer
Apenas libertar o sentir

Não ter receio de ser
É não ter medo de doer

Simplesmente querer
Amar além do medo
E simplesmente saber
Que amar se aprende amando.

Foto por Manu Coloma

terça-feira, fevereiro 12, 2008

...e a porta se abriu


O acaso criou para nós um encontro
Em hora e dia marcado por Deuses
Uma razão para confidências secretas
Que há tempos não se via sobre a terra.

Todos os movimentos do amor são partes
De prazer e dor carregados dentro do peito
Revelando verdadeiros sinais em formas reais
Multiplicando cuidado que por ti tenho levantado.

Pensamentos sinceros em um mundo de enganos
Enquanto profanos e aleivosos arquitetam seus planos
Eu apenas penso em ti e tu só pensas em mim.

Até agora seus olhos inda viram só parte de uma parte
Meus sonhos são teus enigmas de amor puro e raro
Trazendo à vista tão claro o que antes fora escuro.

Pena ir, melhor seria ficar, triste ter a saudade como par,
Guardada em um lugar onde só o amor se atreve caber.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Pois é


É tão claro o dia, mas em meu corpo é treva,
A culpa baixa nos meus ombros e seu peso me leva.

Vejo o que lhe dói bem lá no fundo
Porque também já me fizeram doer nesse mundo.

Por mim e por todos cai meu choro
Segue sinfonia de desespero em bravo coro.

Dor de primeira, mas não única despedida,
Trazendo deserto por onde anda a vida.

Dor de tudo, dor doente e amaldiçoada,
Consumindo o próprio sal da face inchada.

Dor do tempo que passou ignorado
Deixando a dor para um não amado.

Se não é o amor que nos liberta
Terá alguém uma resposta mais certa?

Será só ele mesmo que nos ilumina a face?
Só ele, mesmo de tão longe queremos que nos abrace.

Ao amor nada se explica nada se cala e nunca se basta
Sobre a terra desconheço algo de natureza tão casta.

E a prova é que para amar temos que estar vivendo
Tanto quanto para doer o que está doendo.

Foto por Manu Coloma

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Vou


Passou no rosto o lenço de adeus
Seguiu andando, pois é tempo de andar,
Deixou para trás fantasmas em pleno ar
Pela frente avista caminhos todos seus.

Quem clama é o futuro que ninguém responde
Repleto de acasos no ir e vir para não sei onde
Sentou e pensou em tudo de que o destino é feito
Respirou lentamente a liberdade dentro do peito.

Abriu os braços naturalmente em forma de asa
Tornou-se real para ele mesmo naquele momento
Entendendo que a vida cura a dor que passa
Assim também como a chuva o sol e o vento.

Porque é sempre tempo de recomeçar
Esquecer dos olhos o rastro de choro
Lembrando aos olhos a direção do olhar
O mais é tinta, sem esperança de quadro.

Foto por Bruno Miranda

terça-feira, janeiro 08, 2008

Varanda


Por onde andas?
Procuro por esta varanda
Enquanto a vida desanda.

Deste alto rondo
Vendo sol ante sol se pondo
Mas ainda não é tua voz que respondo.

Não há nada de ti
Nem acima ou abaixo daqui
Apenas tua ausência senti.

E por isso morro
Por não estar na minha frente
Mas sempre nos olhos da minha mente.

Foto por Manu Coloma