sexta-feira, dezembro 29, 2006

Tes jambes




















Ah tuas pernas
Subo por elas
Abro janelas
Ah tuas pernas
Vista vampira
De incomparável
Malicia!

Ah tuas pernas
Encanto pronto
Poção secreta
Ah tuas pernas
De mil mandos
Sobre-humanos

Perco-me
Desespero-me
Eu pobre marçano
Incapaz de decifrar
A metafísica presente
Nos interstícios deste caminho.

Foto por Jorge Oliveira

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Esses dias de noites




















Meus sonhos estão gastos
Feito esses livros que releio
Dentro do meu quarto
Pobres esperanças tenho tido
De dias não vindos que virão
Minha vontade é de gritar
Para mudar a paisagem
Da forma mais covarde
Que se possa inventar.

Baixou-me a inconsciência
Talvez uma forma de extorquir
De outros o que não tenho
Minha alma está cansada
Desta pequena vida minha
E apesar de compreendê-la
Não lhe posso tocar
Tudo me fere e arde
Sinto-me um impostor
Por dentro destas vestes
Outro alguém subjugado
A ponto de escolher
Morte para um de dois filhos.

Quantas vezes já pensei em ser
O único comandante deste volante
Mas vejo abaixo o destino reagir
E me levar ao outro lado
Aceito o que a mim foi dado
Sou corpo em forma de fraco
Quem me dera ser criança
Colocando barcos de papel
Em uma piscina em dia de chuva.


Digo-lhe:
-A grandeza de uma alma não está
na percepção das pequenas coisas
e sim no entendimento do que é essencial.


Foto por Graça


quarta-feira, dezembro 06, 2006

R.I.P





























Ergo a mão e abro rapidamente a cortina da janela tentando provocar susto no que me cerca de fora, inútil. Parece que nada os assusta, ao contrario, tudo me assusta e entristece meus olhos, meu nariz, minha boca, meu peito, minha alma.
Todas ambições juntas formaram uma grande e cinza nuvem desaguando uma cor sem cor, sua obra sem vida. Edificações em forma de progresso rasgaram o assoalho que um dia registrou na lapide tudo que já não existe mais e ali se perdeu sobre tudo que se ergueu. Por trás da vitória deles surge a minha derrota em negra solidão, acima um céu vazio deserto de estrelas. A vingança vem em diferentes frentes, mas todas contra nós mesmos. Solução? Culpar os outros, e retornar ao ciclo interminável da nossa condição humana, ser desumano conosco e com nosso habitat.
Fecho os olhos e anseio estar em outro lugar, essa é a minha maquina do tempo, meu teletransporte que dura apenas segundos de paz. Porque a minha frente está o sentido da civilização a construção acelerada do amanhã, a recriação do que seremos. Antes ruas estreitas, casas baixas, vizinhos na calçada, seus filhos correndo pela rua. Hoje nada disso é natural. Estou preso e saudoso.
Não sei se a mim acontece, ou se a todos como eu que um dia viram e agora não vêem mais. Acontece que para mim e para os que sentem como eu, o natural se tornou estranho e diferente. Um bom dia, uma gentileza, um olhar de carinho, uma resposta educada, um ser humano. Nada se encontra mais dentro de nós, me parece que tudo está por fora, o sentido de sermos estranhos responde a pergunta do porque não sabemos ter em nós as respostas, elas migraram, tudo é exterior, é visual, é artificialmente feito para não nos encontrarmos em nós.
Nossa paisagem foi retirada aos poucos e mesmo percebendo sua irregular condição não nos constrangíamos e aos poucos se perdeu a harmonia, achou-se o caos, construíram a artificialidade, redesenharam a alma, apagaram o orgânico, tatuaram o imaginário.
Ainda forço o cerrar dos olhos o céu cai desmanchando o calor. Nevoa branca sobe do chão, estendo meu corpo, toca-me o choro de quem está em pedaços. Respiro alto e desperto. Olho para baixo, cruza a rua larga um homem, cruzam nossos olhos com desconfiança de não saber explicar.
Da janela o horizonte sinistro se move, quente e soturno, morcego com suas asas em vôo inquieto. Uma massa de umidade e calor cobre a cama para o sono da impiedosa tempestade. Em uma hora como esta vagueio meu pensamento vazio e limpo como os pássaros trazendo para si o contraste entre o que criamos destruindo, e o que ainda não foi tocado em vida.
Que Deus ou qualquer, já que existem tantos e tão pouca fé, nos abençoe e nos dê um pouco mais de tempo para que nessa terra ainda se crie sentidos opostos à incoerência do progresso e da ordem.

Foto por Manu Coloma

sábado, novembro 25, 2006

Dia 28...














... Lembrei,

Um dia alguém falou
Saiba antes o que carregar
Não leve só por dar nas mãos
Escolha da vida o que te serve
Para caber no que te faz feliz.

E desde aquele domingo
Por indicação de um amigo
Ganhei seus olhos verdes
Como quem ganha grandes bolas de gude
Como quem sonha em ter aquela bicicleta
Como quem chega e encontra a porta aberta.

Sou feliz assim sendo só seu
Vendo os dias sendo não tão meus
Vivendo a dois querendo mais que três
Te tendo aqui pra dividir
Te vendo aqui repartir
Mais um aniversário
E lá se vão quatro anos
E logo chegam outros e tantos
Mas como são bonitas essas rugas
Aparecendo juntas pra contar nossa história

Nunca foi tão fácil prometer
De quem mais eu poderia ser
Ter de tudo pra te dar
No coração te ter ao lado meu
E no seu ser o lado teu

São eles a felicidade vista
Meu prazer é perceber a cada dia
Sei que é você a alegria
Por traz de meus olhos castanhos
Que você já tinha ganho
Antes mesmo de conhecer.



-Se o amor não dura
Quem disse não mentiu
Apenas esqueceu
De olhar você e eu...



Foto por Bruno Miranda

terça-feira, novembro 21, 2006

...quem?















Não sou poeta, não sou escritor, desentendo o anuncio de tais palavras, pois não vivo nem de um nem de outro, invejo o inverso, o descompromisso, a ausência completa das linhas e contornos apontando a direção. A veste que me serve é minha não ousaria caber em um traje que não o meu. Simples, como posso ser o que nunca fui, como posso querer se não busco, em mim tudo o acaso traz, vou me descobrindo aos poucos feito criança há poucos dias saída do ventre e abandonada pela própria mãe. Renego qualquer adjetivo no sentido de limitar o que sinto, minhas palavras não pertencem a nenhuma ordem, a nenhum intermediário, pertencem ao que da alma colho e remeto ás caixas postais dos olhares que vez por outra caminham por estas linhas. Sou um triturador do espírito, alguém que espreme da calma da alma aquilo que sobra e se esconde.
Cada gota vale o prazer de revelar a mim o museu dos meus sentidos ou o futuro do meu imprevisto. Sou arqueólogo da infinita condição de não saber o que procuro tendo a certeza do que acho. Sim tudo é pessoal, tudo é intimo, não nego! Ante a vida fingi-se a todos, até aos mortos, menos a um, o corpo de dentro por dentro de nós. Sendo assim sou bem vindo a tudo que reconheço como sendo parte de mim.

Foto por Mariana Maltoni

terça-feira, novembro 14, 2006

Conversa ao pé do ouvido




























...
Fico esperando um convite seu
Com inicio com principio
Propicio pra deixar acontecer

Então deixa o sol se pôr
Pra me pôr em ti
Deixa a noite vir
Pra você vir a mim

Como seria ver
E receber
Reler em você
Aquela história de nós

Sinto muito e espero
Não despertar em ti
A culpa da minha dor
É que pousou em meu mundo
A recordação

Só queria te acordar
Pra falar de amor
Sem mais nem porque
Só de mim pra você.

Foto por Manu Coloma

sexta-feira, novembro 10, 2006

Êxtase














Escrevo sozinho no meu quarto, sozinho como sempre tenho sido pelas manhãs e como sempre serei, pois prefiro assim, preciso assim. Penso se a minha voz presa dentro desse arcabouço de razões seria a única, ou se, existe em outros o mesmo que existe em mim? Serão quantos a minha volta? Conhecidos ou desconhecidos? Do porteiro rabugento ao vizinho sorridente, do homem impaciente, ao dono da banca de revistas, quantos tem um quarto seu para abrigar silêncio e tristeza? Sinto que todos! Sinto por todos. Vejo-me no quarto andar dessa avenida, daqui leio do mundo seus lamentos por planos desfeitos que ao juntar-se aos meus me tornam pequeno e egoísta.
Eu me aperto contra a parede e pergunto a mim mesmo: O que você vai fazer hoje? Pescoço de lado olhando sentido chão, vê meus olhos caídos. Vejo-me: uma flor envelhecendo, triste por sentir os ombros arqueando cada vez que pensa em sorrir. Sou como vela que leva o barco, sou como quem vai carregado, me sinto apenas corpo, toco levado pela correnteza.
Tudo é amargo, o gosto do fel goteja em minha língua, conto gotas, conto os dias que parecem acabar em noites eternas cobertas por um manto de erros passados perpetuando um reinado de angustia.
Minha corrente tem dois lados, a segurança de estar vivo preso ao sentido de continuidade inerente a todos que tem no conforto de suas casas e na estabilidade de seus ofícios a felicidade. Pouco, talvez não? Apenas duas caixas de embrulho paraíso dia a dia abertas e varridas para debaixo do tapete da minha porta de entrada.

Foto por Bruno Espadana

sexta-feira, outubro 27, 2006

...dela para ele













Fiquei sem dormir
Tentei me acostumar
Com o que vi
E a pena por ver
Meu tempo terminar
Sem ter onde ficar

Pretendia te seguir
Até seu rosto
Encontrar um encosto
Ao lado meu
Ainda sem admitir
Te sinto aqui
Mesmo te deixando partir
Não consigo ir
Sem te querer pra mim

Num ultimo momento
Um tempo pra me refazer
Do que me desfez
Sinceramente
Fiquei doente
Pelo meu amor que caiu
E por você que nada sentiu

Te digo adeus
E peço a Deus
Pra te reencontrar
Algum dia
Em qualquer lugar
De preferência com urgência
De um coração que não sabe esperar.

Foto por Manu Coloma

sexta-feira, outubro 20, 2006

Pequeno pedaço













...
Ah, me deixem aqui com meus pensamentos falhos, com meu tempo desperdiçado em uma mesa de cartas sem significado. E se nada digo é que nada tenho a dizer, e se nada faço, nada tenho a fazer, aos que querem ver sentido que inventem os seus, porque o meu se desinventou. Basta! Deixem-me! Apenas escrevo o que sinto na tentativa de diminuir a febre do sentir, necessidade de estar aqui querendo estar longe de qualquer paisagem que vejo. Vejo e invejo os que têm nexo, sentido de estar aqui e ali, eu não tenho, faço parte sem fazer, faço por fazer de conta, morro a conta gota para caber no que não me serve.
São minhas confissões e se nelas existe o vazio é porque o vazio existe em mim, confesso aqui minhas sensações brancas e negras, sem importância, porque não devem ter importância, não sou digno de tal relevância, e se tenho nada é porque mereço o tê-lo. Sou mais uma das mazelas humanas, condição que me foi imposta ao nascer, e que pouco a pouco conjugo em gestos pelo viver e em palavras pelo escrever. Subsisto em algum pedaço dentro de mim, um grão calmo em meio à tormenta, um enigma dentro de minha própria alma...

Foto por José Da Silva Pinto

quinta-feira, outubro 19, 2006

Bem leve














...
Sigamos caro amigo ao encontro constante do interminável
Sigamos dois a sós com corações abertos e mentes mortas
Calmos ao respirar e calmos ao reparar em tudo menos em nós
Atenção para escutar as coisas simples como simples são
Fazendo a dor dançar pelo templo que no seu peito faz
O barulho que o tempo traz para dor se transformar em paz
E descansar dentro do seu sonho como se dele fosse dono.

Foto por Bruno Miranda

sexta-feira, setembro 22, 2006

Canção (in)comum













Enquanto eu continuar acreditando no que sinto
Estarei aqui comigo.
Apesar do seu mar de magoas transbordar,
Eu saberei nadar só.
Veja as fotos da cidade e de tudo que era como antes
Nossos rostos eram nítidos, nossas mãos eram limpas,
Nada que o tempo não esnobe e transforme.
Vou fingir que deixei alguém feliz,
Vou fingir saber o que antes aprendi
E talvez reaprender a ver em um olhar
O que palavras não sabem dizer.
Acreditar em Deus já não é suficiente
Pra me fazer acreditar no homem.
Continuo construindo meu mundo
A S S I M
Em forma de papel e borracha.

Foto por Jonne Roriz

quarta-feira, agosto 30, 2006

Sepulcro
















Esse espelho já não me serve mais
Sou mais sombra que rosto
Meu coração é uma forma antiga
Uma máquina de escrever esquecida.

Abandonei primeiro a mim
Aos poucos todos os outros
Devagar fui me desatando
Meu olhar cálido negrejando.

Desfaço-me em pequenos pedaços
Vejo-me ocultando o que dantes sentia
Esvaindo-me sereno por contente
Pelos assombros do meu presente.

Aproxima-se um doce acalanto
O instante de um único fim
A partir de amanhã não estarei
Apenas irei.

Cada dia como menos
A alma está magra
Repleta de vazios.

O que quero e não tenho
Chamo de um sonho
E a cada dia durmo menos.

Foto por Mariana Maltoni

terça-feira, agosto 22, 2006

Canção de você















Ah tristeza vá embora
Não te quero agora
Que tudo se resolveu

Ah tristeza fica lá fora
Que aqui não tem hora
De descansar alegria

Já me dei o perdão
Já me juntei ao cordão
Dos que são sãos

Já decidi não ir
E nem mais um dia
Entregar-me à solidão

Encontrei a metade
À parte que faltava
To á vontade

Saiu á dor, sumiu o horror,
A sangria que um dia
Desandou e me tombou

Entre a vida e a morte
Encontrei-te
Encontrei em ti minha sorte.

Foto por Ivone Peoples

segunda-feira, agosto 21, 2006

De anteontem














Das lembranças da vida
Lembro da navalha que me lançaste
Por pura vaidade de me ver sangrar
Com o dia ainda claro, como um raio,
Caio...
...Pássaros sobrevoam meu corpo
Cães me levam a caminho do almoço
Sou eu servido a mesa dos grandes
Senhoras e senhores
Eu perdedor (?),
Vocês ganhadores (?).

(Quanto mais me assombras mais expulso meus demônios)

Foto por Elsa Mota Gomes

quinta-feira, agosto 17, 2006

Um dia de criança



















Pião, pião, pião...
Corre do dedo e cordão
Gira, gira solto pelo chão
Quando cansa cai tonto
Pedindo que lhe de a mão

Pipa, pipa, pipa...
Guia no céu os raios de sol
Pra longe te leva o vento
Quanto mais longe vejo
Mais linha leva meu desejo

Rola, bola, rola...
Corre pé pelo pó vermelho
Sem camisa e descalço
Sou criança o dia inteiro
Cobro escanteio e cabeceio

Sou forte, não me canso!
Corro, pulo, invento história!
Sou mágico, bombeiro, cavaleiro!
Por onde passo levo comigo
Todos os meus sorrisos

Mas quando chega o fim do dia
Menino invisível ele vira
Acaba de uma vez toda valentia
Na barra da mãe se esconde
Pra não tomar banho de água fria.

Foto por Vitor Dias Fereira

segunda-feira, agosto 14, 2006

Uns que diziam ser humanos














...Chegará um tempo
Onde a palavra será silêncio
E o silêncio será mantido.

O seco e o amargo
Tomarão conta das sentenças
E as sentenças serão um só deserto.

Um manto em vertical
Cobrirá o desejo madrigal
E o desejo se tornará indesejável.

Chegará um tempo
Onde seremos imóveis
Hóspedes em um retiro de atores,

Ossos largados por cães saciados
Tempo em que se perderá
O amor da alma e da alma a compreensão.

Deitará você tendo ninguém
Para de ti tomares conta
Sem dar conta fenecerá.

O sorriso será guardado
Feito segredo amaldiçoado
Pedaço de um passado crucificado,

Mantido esquecido se afogará
Os escafandristas desistirão
Nossos corpos já não serão matéria.

O amor seja lá como for
Não será mais amor
Será algo que aprenderemos a embalsamar,

Porque dos braços já não saem os laços
Não pedem, não prendem, se despedem, se perdem,
Por lugares onde não estaremos mais...

Foto por Mariana Maltoni

quinta-feira, agosto 10, 2006

Canção do silêncio (para Dyna Hoffmann)














Palavras faltam
Coração dispara
O mundo para
Vontade de você,

Palavras faltam
De olhos sonhados
Recordo seu sorriso
Com ele, sigo.

Assim como vela
Ao rumo de seu porto
Em seu corpo encontro
Um imenso conforto.

Palavras faltam
Saudade desenha
Suas lindas linhas
Em suaves contornos,

Palavras faltam
Vem bem pra perto
Um abraço e tudo certo
Me acalma te ter em mim.

Escutar o seu silencioso sim
E que todas palavras faltem
E que me sobre...
O amor.

Foto por Manu Coloma

segunda-feira, agosto 07, 2006

Balão




















............................................Balão


...............................Bem alto


.....................Alto

Voa
no chão

................................cai


.......................cai



a toa


dor vermelho sangue
destoa pelo mar céu azul
meu triste, triste olhar.

era eu que via ela
era ela que não via eu
vaaaaaaaaaaaaaaaaai
................................vai
e desfaz
sem um notar,
sem nem olhar.

c...o...r...r...e , c...........o............r............r............e

e se encontrar o que foi buscar
volta e diz
que é pra eu não mais
.......................................c
........................................h
.......................................o
........................................r
.......................................a
........................................r.

Foto por Yashuhide Fumoto

quinta-feira, agosto 03, 2006

Canção da seca














Desce a ladeira
Pula a cerca
Vira esquerda
Acostuma com a seca
Garganta tão seca
Sol que só queima
Minha certeza
Fugiu a chuva
Do céu de fogo
Só vejo poeira
Na bica sem água
Quero resposta
Da minha prece
Depois da eleição
Nem Deus aparece
Ta tudo morrendo
A vida padece
Nos olhos vazios
Choro não cai
Um corpo seco
Tem pranto seco
Prato vazio
Vazio da alma
Em gente deserta
E quem pede calma
Não sabe da pressa
O pasto não cresce
A água não desce
Cadê Maria
Sumiu João
Estão todos morrendo
Todos são filhos
Dessa seca ilusão.

Foto por Dida Sampaio

terça-feira, julho 25, 2006

Tarde de chuva




















Vi pobres gritando na chuva
O que eles diziam vento levava
Caiam lágrimas do céu cor abandono
Incrédulo escutava, não compreendia,
Quando lembro, relembro talvez avisassem,
A chuva é feito choro de castigo
Dia escuro é sinal de Deus triste
Eu pobre de mim não sabia.

Corria fugindo da mórbida paisagem
Não me furtava mirar seus rostos
Tangidos pelo frio e desespero
Mistura de sal e água impunemente descia
Boca vazia bebia o amargo do dia
Era algo hediondo que ao mesmo tempo
Os alegravam e me entristecia.

Historia que historia de herói não conta
Enigmas de ontem e de sempre
Acostumando nossos corações
A aceitar muro e pedra, moedas e faróis,
Contraindo toda vida ao menor dos insetos
Enquanto a avenida desabriga triste poesia,
Preta e branca fotografia, e agonia, e agonia.

Há tempos evito meus olhos das lentes
Porque a verdade é ver, o sentido é sentir,
Tudo mais é extinto, é abolido, é vago.
A maquina do mundo segue seu rumo,
Gira mundo sua ode cheia de melancolia
Enquanto apenas um desejo me consome
A fantasia de ver curada tanta dor sem nome.

Foto por José Silva Pinto

sexta-feira, julho 21, 2006

Reinvento




















Fabrico outro que não esse,
Sigo talhando nesse carvalho de carne,
Outra imagem e mensagem.
Quero tudo de outro jeito,
Quero que outro seja feito.
Outro que não se prenda a mitos pretéritos
E sim a futuros méritos.
Outro que não seja esse, que já não sei quem é,
Um sem ser este que só faz se perder.

Estou cansado de mim a julgar o mundo pelos meus erros,
Vendo o amanhecer de antigas manhãs pelos olhos de um cadáver,
Imóvel vejo, meu sorriso não veio.
Mistério esse com sentido esquecido,
Abandonado na trilha desfeita feita por pó e poeira.
Volto ao mundo, mas que mundo?
Planto um pé de sonho, nele paira o inverno,
Pelo chão dormem as folhas quebradiças,
Que já não são folhas, restos.

Há muito aprendi a sorrir e agora me pergunto
De quem? De mim? De ti? De nada?
Descansa sobre meus pés terra amarga,
Age como freio trazendo lentos dias
Conduzindo a longas paradas cardíacas.
Bem vinda febre terçã, um pouco de calor a este dormente estorvo,
Um pouco de caso ao descaso.
Estremeço, durmo.

Monto peça a peça cavaleiro em armadura,
Vendido dentro de caixas modernas sabor infalível.
Luta e não morre, sempre de pé enfrenta a justa,
Mesmo ferido segue cumprindo o dever que lhe foi devido,
Forte e sem medo da morte, passo firme confiante na sorte.
Ergo outro a ferro e fogo, nele braço sem nunca ter cansaço,
A mão espada de prata, no sangue flor e vinho.

Reinvento outro sujeito com predicados bem feitos,
Já não posso ser o quero ser,
Assim prefiro ser o que alguém quer ver.
Recoloco outro em meu lugar,
Morto aquele já não faz falta,
Não lembro eu, não lembra você,
Quem jaz morto ou de quem dele viveu.
Agora sei fazer de conta,
Deixo a conta para os lúcidos e para os severos.
A deriva o tempo deixa leve em sua palma
O esquecimento de um dia, de um mundo, de um que diziam ser eu.

Foto por Alexandra Frankel

quinta-feira, julho 20, 2006

Reescrevendo




















Aos meus ouvidos
Grite se preciso for
Só não esconda tão só
Ou a dor crescerá eterna

Apaga-se a luz
No brilho da escuridão
A chave dessa ilha deserta
É deixar o choro
Cair sobre a vela

Tão pequeno e sereno
Mas nunca covarde
Não há de ter maldade
No dia de renascer

Alguém deve saber
De onde vem esse pranto
E pra onde vai tanto
Desencontro

Prever é me enganar
Dizer o que só o tempo
Dirá
Então é ter calma
E deixar sangrar.

Foto por Manu Coloma

quinta-feira, junho 08, 2006

Fim




















Qual a resposta
Diga-me
Em verso ou prosa

Qual a verdade
Que desmente
Sem maldade

Qual o dia
Diga-me
Se é fim ou vida

Qual a palavra
Se for seguir
Não diga nada

Eu sinto o sino
Ao meio no peito
Ausente de vermelho

Tal qual distância minha
Na falta de uma rima
Perdida entre linhas

É a mesma resposta
Da falta que sinto
Pelo tempo que esgota
E em mim aporta.

Foto por Mariana Maltoni

quarta-feira, maio 31, 2006

Eu te amo














Vem meu amor espantar o meu só
Vem me contar historias de nós
Vem colocar meu coração a balançar
Dar a paz que ninguém mais trás

Você é minha na minha ilusão
Uma canção que fiz pra tentar sorrir
Pela noite inteira vou cantar
E refazer seu caminho até mim

Desde o pequeno instante
Desde o encontro aonde
Em plena luz do dia
O mundo se deu conta
De nossas juras imortais

Sou um tolo capaz de perguntar
O que a vida vai fazer de mim
Da dor não sou mais refém
E me entreguei enfim por bem
Será que percebes o que a ti confiei
Será que me tens como a ti me doei.

Foto por Bruno Miranda

quinta-feira, maio 18, 2006

Maldição














Pelas flores que montei
Fotografei o seu sorriso
Como prova de arquivo
Dos dias que pra mim faziam
Sentido

Aqui presente em minha mão
No contra luz da minha solidão
Eu revejo em pedaços
O meu passado
Congelado

Como ponte do acaso
Perdida indo de lado a lado
Depois de tudo que criei e te dei
Acabou assim me deixando
Abandonado

Só sei que por fim
Por ti me apaixonei
E se isso é maldição
Não sei,
Talvez!

Foto por Marcelo Botelho

quinta-feira, maio 11, 2006

Ainda não sei (mais uma vez)




















É de saudade que se faz
Meu sorriso tão atrás
É de esperança que se faz
Meu coração querer-te mais

Dorme sombrio meu alivio
Esperando meus olhos castanhos
Transformarem o distante em alcance
E o barco tornar pro mar
Como quem diz me acalma

Minha alma tão distraída
Apesar da avenida
Ninguém vai passar

Vou seguindo só
Na dança do samba
É só tristeza sem par

É de não saber que se faz
Meu silêncio pontual
É de esconder que se fez
Lágrima mais uma vez.

Foto por Manu Coloma

terça-feira, maio 09, 2006

Convite














Você não percebe
Essa gente lá fora
Ou eu é que estou fora de moda
Eles enxergam diferente
Se contentam em ver
Só o que passa na frente

Na minha idade
Pouco se cabe
Mas queria entender
Como pensam as pessoas
Que mais me parecem maquinas
Todas programadas
Em fazer sem saber

Aqui onde tudo é bonito ou feio
Onde todos se perdem no meio
Do desrespeito pelo defeito
De não serem todos iguais

Ai meu deus mostre a eles como se vê
Se foi você que criou
Transforme o homem
Em algo com mais amor

Dizem ser o que tem
Não querem viver além
Do que seus olhos podem comprar
Do que suas mãos podem atirar

Quero ser salvo do alvo
Me mande um convite
Pra visitar o céu.

Foto por José da Silva Pinto

segunda-feira, maio 08, 2006















Hoje não amo e nem bebo, sou todo outono e inverno,
Sou triste pelo que invejo, meu fim é desconhecer.
Não há aqui poder que vença a densa parte escura de mim
Passeio por esse andar com meus passivos olhos
Contemplando a sentença em tudo que vejo.
Fora do conhecido, resto mais é estranho, é medo!
Tu mesmo és tua vida, não vá atrás da vida que não é sua!
Uma vez trilhado o chão antecipa-se a sombra abissal.
Pouco usamos do pouco que mal temos
Menos ainda somos do muito que escondemos.
Sou morte como a vida que vivo
Destino que não espera, estreita.
Leve-me daqui fumo que se ergue
Com assas tontas me carregue
Porque a ninguém e a nada
Importam meus desejos fotografados.
Não convenci esses lábios desde muito tempo já parados
Apenas os lembro, embalsamado e distante,
O sorriso com que me amavas.
Agora me despeço do meu corpo vivo e inútil
Tornando-me apenas nome do meu corpo carne
Já morto como alma, já feliz pelo dia,
Já dormidos os olhos vazios
Por não me ter mais como destino.

Foto por surpresa atrás da porta

quinta-feira, maio 04, 2006

Quarta-feira














Acabou o carnaval
E com ele meu sorriso
Trago uma tristeza comigo
Um amor de pierrô e colombina

Dessa minha sina fiz um samba
Corda bamba de vida mal vivida
Entre confete e serpentina
Decorei minha avenida
Cheia de pesares
E vazia de altares

Virei refém da cadência
E da ciência fiz razão
Queria mesmo é saber
Porque fiquei só na multidão
De pierrô a palhaço
Feito mágica em vara de condão.

Foto por Jomar

terça-feira, maio 02, 2006

Menina

















Ensina-me a voar
Menina,
A despedida vem
Ainda,
Saudade, sobra do amor
Descuidado
Que deu errado,
Ensina-me a cair
Vida,
A ter paz
Sem tê-la
Mais,
A ser feliz
Sem conseguir
Sorrir,
Ensina-me
Menina,
A te ver
Sem te ter,
A te querer
Sem ter poder.

Foto por Luis Pinto

En la ventana















Sem mostrar arrependimento
Caiu seco do mais alto piso
Se foi até a luz não mais alcançá-lo
Fazendo do chão cama e cobertor.
Foi aquele que a mão não toca o ombro
Mais um esquecido de deus e dos humanos.
Fazendo gemer segredo aos ventos
Chega de longe o som da dança
Ruidosas rodas correm ao tempo fim.
Daquela altura deixou o guiar à sorte
Das leis do universo sempre descuidado.

Do pensamento era escravo
Sempre solitário e curvo
Caminhava como sentisse dor
Mas sempre sorria quando recebia
Boa noite, boa tarde ou bom dia.
Eu parvo o vi envelhecendo
Sem nunca ter lhe oferecido alento
Dessa janela sem vista observo e creio
É sempre breve o tempo da mais longa vida.

Foto por Mariana Maltoni

quinta-feira, abril 27, 2006

Um pedaço de mar















Marinheiro viaja o mundo inteiro
Atrás de um simples desejo
Procurar por cada porto
Seu par verdadeiro.

Pelas mãos do timoneiro
Teve o destino refeito
Lá onde a sorte não tem dono
Mirou um olhar estrangeiro.

Foi de uma vez reinventado
Deixou o coração batendo
Em um só porto ancorado
Viu o que é solitário e amargo
Ser enfim afogado.

Foto por Dorival Moreira

terça-feira, abril 25, 2006

O que não penso














O que penso
A quem importa
O que penso,

Se não a mim
O que penso eu.

Não deveria ninguém
Se importar o que alguém
Haverá um dia pensar,

Importa sim
O sonhar.

Porque quando penso
Morro,

Enquanto sonho
Renasço.

Então o que tem eu ou você
De querer escutar o calar,

Se não se mistura
Inteligência e amor
Deixa ser como for.

Foto por Lilian Martins

quinta-feira, abril 20, 2006

Salvo














Rejeito em mim qualquer atenção
Meus olhos são arabescos de Deus
Enxergam mudos minhas palavras de adeus.
Junto com o tempo inventa-se desculpa
E a falta de tempo para esconder angustia
Eu vivo por mim, não me chame de egoísta
É a minha forma de dizer que não vou viver
Como me dizem ou quando me convém.
Sou desertor do mundo, conquistador de mim
Vou ser eu em tudo que sou aqui dentro
Longe dessa casta conservadora e ordinária.
O contentamento dessa gente sem sangue e pálida
São como rostos fotografados em cor maquiagem
Eu aqui tão pouco não sou janela e nem pedra
Não sou saudade ou ausência, apenas presença
Estou aqui sempre reconstruindo a mim.
A duras penas um eu com coração em mente
Um retrato enquadrado para um espelho de cegos.
O perdão faz muitos seguirem em frente
A culpa é a escolha de se tornar escravo
E deixar mais um sonho ser amputado.
Minha opção é entender o que sou
Para aceitar o que realmente quero
E se eu vou, vou saber que me espero.

Dedico a um grande amigo e nossas conversas no sofá em uma tarde de futebol.

Foto por Mariana Maltoni

terça-feira, abril 18, 2006

Tempo?
















Olha a hora
Hora de deitar
Olha a hora
Hora de acordar
Hora pra dizer que horas
Bora ver aurora
Hora de sol esquentar

Hora pra fazer hora
Hora pra atrasar
Hora de perder hora
Hora de irritar
Bora trabalhar
Ora já são nove horas

Hora pra marcar
Hora de desmarcar
Hora pra não cumprir
Hora de sumir
Hora de não desanimar
Hora de continuar
Bora reagir

Hora de ir
Bora almoçar
Hora de dormir
Meia hora pra descansar
Já é hora de voltar
Hora passa logo
Hora demora a chegar

Hora que nada
Hora errada
Hora de aceitar
Tem horas que não passa hora
Hora de orar
Chega hora de parar
Hora de acertar e errar
Hora de esquecer o tempo
E viver o grande momento
A vida.

Foto por Carlos Henrique

quinta-feira, abril 13, 2006

Quadro em preto e branco














Pincel na prateleira no copo sujo de água turva
As tintas coloridas estão guardadas no porão
Pelo menos minha memória ainda grava
Onde me deixei e por onde as coisas estão

Escolha seu pote
Encontre na sorte
Derreta e misture uma cor
Já que você chegou cubra seu olhar
Cegue com a mão seja qualquer dor

De costas ou de frente enxergo
Além da moldura sobre o quadrado
Entre o espaço traduzido ao lado
A cadeira aguarda no canto molhado

Família reunida ao redor da mesa
Coração em oração por mais um dia
De rotina satisfeita com a certeza
Que tudo sempre vai se repetir

Aquela criança que tudo sabia
Não cabe mais aqui
Peguei minha sela
Não me prive da descoberta
Só descanso quando ver
Meu chão parar de tremer

Mas meus inimigos onde estão
Será que todos camuflados
Pelo brilho do sorriso
E mais um aperto de mão

No correr da hora
Nem vi a noite entrar
Depois de tanta aquarela
Resolvi mesmo simplificar

Fiz um Sebastião Salgado
Preto no branco enquadrado
Fiz uma mistura do que sobrou
Sempre atrasado congelei o vazio
De sua ausência no retrato.

Foto por Bianca Pimenta

sábado, abril 08, 2006

Desejo uma fotografia




















Desejo uma fotografia igual a esta escondida a minha espera, uma imagem onde o momento se congela, os rostos não desaparecem, onde o amanhã não escurece, onde a esperança é algo que ainda vai chegar porque ainda não há desilusão vindo com a vida, não há miséria ou injustiça, apenas eu, você, circo e alegria.
Você vê? Você vê a foto? Para sempre sorrisos, abraços e fantasias! Para sempre festa com bolos, doces e velas! Para sempre olhos contentes com cores presentes! Para sempre todos nós de um jeito que não somos mais!
Você vê? Você vê a foto? Quero ser parte dessa fotografia na qual o mundo ainda não arrombou as portas, não assombrou as glórias porque ainda não existia maior vitória se não o primeiro pedaço de bolo das mãos da menina bailarina dona da festa e de tantos outros pequeninos corações.

Foto por Lampreia

quinta-feira, abril 06, 2006

Um dia...(Um samba)















Ah um dia...
Um dia ainda
Vou ser poeta,
Vou ser artista,
Vou ser cantor,
Aparecer na revista!

Em qualquer esquina
Vão lembrar de mim
Ler para seus filhos
Todos meus artigos,
Vão comprar os meus discos
Cantar meus hinos,
Me fazer elogios!

Vão me tratar como amigo
Sem nunca terem me conhecido,
Vão pedir meu telefone
Por só saber o meu nome,
Vão me convidar pra jantar
Somente pra ouvir o meu calar!

Ah um dia...
Vão querer minha assinatura
Sem eu ao menos ler partitura
Vou ser dito,
Vou ser mito na minha rua,
Vou sair dessa amargura
Sufoco de fim de mês
Vou ser freguês de Maison!

Um dia cai esse fardo
Mas não vou querer despir
Meninas de fino trato
Vou querer sempre
Quem esteve a meu lado
Mão esquerda à direita
Dividir comigo o reinado!
Ah um dia...
...Um samba.

Foto por Paulo Custodio

sexta-feira, março 31, 2006

Sobre um amigo




















Como é difícil sorrir quando a dor é aqui
Não é raro ver ao lado à vontade ceder,

É preciso muito mais que razão
Não se engana um arranhado coração,

Pelo vão de uma boca se alcança a forca
Desaparece a força de levantar e seguir,

Sei de tudo, sei da intenção de mentir,
Mas sei que é assim, que dói assim

Feito espinho apertado com a mão
Sei, sangra, sangra em mim,

Mas toda dor tem sua cura
Não só com espera se desfaz,

Fez-se mar minha rua, fez-se perder os dois,
Eu sigo, levo o nó, vou pelo mar, e vou só.

Foto por Zé Pedro

Sobre estar só













A chuva cai assim tão devagar
No mar de ondas sou eu a remar
Isso que digo é sobre estar só
Então vou ser claro em lhe dizer
O que quis foi não querer
Tudo por medo de perder

Um corpo vazio no canto escondido
O doce da vida pra mim é amargo
Por saber que meu amanhã é ninguém
Indo mais além outra mão não se abriu
E pra mim é simples assim
Se estais triste
Como podes querer
Fazer alguém feliz

É a tristeza que não quer sair
Teima em querer pedir
Por mais uns dias ficar e chorar
Eu repito para com isso e lhe digo
É sobre alegria que se constrói o sonhar

Então
Quem vai me querer
Não vem me querer
Assim
Não vou encontrar
Em quem dividir
Encostar em quem
No fim.

Foto por Paula Fogg

quarta-feira, março 29, 2006

Avante!




















Olhos verdes
Desculpe-me
Por perder algo da realidade
Nem sempre meus pés estão
Salvos deste chão

Olhos verdes
Desculpe-me
Por nem sempre perceber
O tamanho do sonho imperfeito
Repousado no altar do seu peito

Vou colocar um sorriso nos teus lábios
Não perder tempo com conselhos sábios
A certeza da razão apenas constrói perfeição
O que seriamos sem os descaminhos do coração
Algo com olhos vazios e mãos mesquinhas
De certo interlúdios com notas sozinhas

A verdade é que sinto falta da parte que me falta
Sinto a perda de não saber sobre o poder de me perder
Me ensina ser sem perceber por onde vão meus pés
Deixá-los ir é não saber até onde podem chegar
É muito maior que desejar um lugar.

Foto por Manu Coloma

terça-feira, março 28, 2006

Reinventar














Ainda lembro
Do dia que te vi
Ainda lembro
Do dia que te escolhi

Sem lugar pra ficar
E como esperar
Achar um dia você

Ainda lembro
Do dia que te perdi
Ainda lembro
Do dia que morri

Sem lugar pra ficar
E como esperar
Amargar um dia você

Ainda lembro
Como foi fácil chorar
Difícil dormir e acordar
Mas tenho e vou deixar
Más lembranças pra lá
Vou tentar me reinventar.

Foto por Manu Coloma

quinta-feira, março 23, 2006

Em algum canto quieto




















O que sou cabe em mim
Por isso existo no silêncio
A cortina esconde o palco
Horizonte não revelado
Mesmo assim há alguém ali
Atrás do verbo atado.

E porque mantenho meu silêncio
Por que sou como a natureza
Escondo-me quando não tenho só a mim
No calar casto decoro minha alma
Reservo-me o direito de ser tímido aos olhos
Aconteço quando ninguém está por perto.

Foto por Hugo Delgado

terça-feira, março 21, 2006

Em pedra















Onde foi você
Que eu não vejo mais
Desde outros temporais
Onde está você
E o porque
Ir sem nada a dizer
Estou como pedra
Enterrada na terra
Ainda sem ninguém
A minha espera
Vem e faz volta
Atire-me ao mar
Pra eu nunca mais voltar
Como pedra no coração
De alguém que não consegue perdoar.

Foto por Bruno Curvello

quarta-feira, março 15, 2006

Á dois















Amigo,

Mesmo de longe te tenho aqui comigo
A presença é pouco pra quem ama tanto
Do que me serviria o coração se não
Guardar em mim os negativos
Visto pelos meus olhos
Através da luz do seu sorriso,

Mesmo sem destino e aflito
Percebo a falta que me faz
E a tristeza nunca é de mais
Pra alguém que se sente só.

É amigo,

Vai tudo de mal a pior
A nêga não teve dó
E me largou
A febre que tenho
Ainda não baixou
O emprego de outrora
Dele fui mandado embora
O que mais há de dar errado
Eu que da vida sabia um tanto
Agora me banho em pranto.

Volta amigo,

Peço que regresse
Por meio desta carta
Em forma de prece
De longe não percebes
Esses meus dias malditos
Feito praga em plantação
Transformando o antes sim
Agora em não,

Segue meu endereço e todo meu apreço
Junto o desejo que tu estejas bem
Me desculpe a maneira de escrever
É que meu mundo anda meio turvo
Quero te ver logo chegar
Calmo como a madrugada
Poder sentar e conversar
Sob o manto da alvorada
Destilar pelas palavras
Minhas mágoas pelo ar.

Foto por Luis Pinto

segunda-feira, março 13, 2006

Retrato 15x20




















Se você revelasse o seu amor
Eu chegaria aonde nunca ninguém chegou
Eu seria bem maior do que sou;
Se você revelasse o seu amor
Eu estaria de pé na pedra mais alta
Dizendo ao mundo que o mundo é meu;
Se você revelasse seu amor
Eu correria sem me cansar
Eu estaria ante sua porta portando uma flor;
Se você revelasse seu amor
Eu não pensaria nem mais um segundo
Eu seria sempre alegre esquecendo de ser triste;
Se você revelasse seu amor
Eu provocaria uma briga
Só pra você torcer por mim;
Se você revelasse seu amor
Eu chegaria em casa cedo
Dispensando amigos, bar e futebol!
Se você revelasse o seu amor
Eu acordaria sempre primeiro
Só pra ver você dormir;
Se você revelasse a minha dor
Eu saberia agora onde estou
Eu não estaria perdido de amor.

-Que linda tragédia é a embriaguez do amor
Eu mais que tonto querendo ser o que não sou
Mas se ao menos eu visse o seu olhar
Mas porque está tão distante dos meus?
Mas se ao menos pudesse seus braços alcançar
Mas porque são tão ausentes dos meus?

Foto por Fernando Manoel Oliveira

quarta-feira, março 08, 2006

Quatorze de julho...sorria!














Sorria
Por ter mais um dia
Por não ser o seu dia
Por não ser a vadia
Que varreu meu coração

Sorria
Por ter moradia
Por ter harmonia
E o mesmo lar
Todo dia

Sorria
Porque não eu
De sobrenome heresia
No desencontro da agonia
Encontrei ao menos poesia

Não se escraviza a vida
Por um dia de sangria
Essa eterna mania
De sofrer o erro
Antecipando o fim
Estando só no começo

Sorria
Mesmo assim
Sorria
Não há de durar
Tristeza não há de ficar
Sorria
Sendo assim enfim
Sorria.

Foto por Samira Gasparini