sábado, novembro 25, 2006

Dia 28...














... Lembrei,

Um dia alguém falou
Saiba antes o que carregar
Não leve só por dar nas mãos
Escolha da vida o que te serve
Para caber no que te faz feliz.

E desde aquele domingo
Por indicação de um amigo
Ganhei seus olhos verdes
Como quem ganha grandes bolas de gude
Como quem sonha em ter aquela bicicleta
Como quem chega e encontra a porta aberta.

Sou feliz assim sendo só seu
Vendo os dias sendo não tão meus
Vivendo a dois querendo mais que três
Te tendo aqui pra dividir
Te vendo aqui repartir
Mais um aniversário
E lá se vão quatro anos
E logo chegam outros e tantos
Mas como são bonitas essas rugas
Aparecendo juntas pra contar nossa história

Nunca foi tão fácil prometer
De quem mais eu poderia ser
Ter de tudo pra te dar
No coração te ter ao lado meu
E no seu ser o lado teu

São eles a felicidade vista
Meu prazer é perceber a cada dia
Sei que é você a alegria
Por traz de meus olhos castanhos
Que você já tinha ganho
Antes mesmo de conhecer.



-Se o amor não dura
Quem disse não mentiu
Apenas esqueceu
De olhar você e eu...



Foto por Bruno Miranda

terça-feira, novembro 21, 2006

...quem?















Não sou poeta, não sou escritor, desentendo o anuncio de tais palavras, pois não vivo nem de um nem de outro, invejo o inverso, o descompromisso, a ausência completa das linhas e contornos apontando a direção. A veste que me serve é minha não ousaria caber em um traje que não o meu. Simples, como posso ser o que nunca fui, como posso querer se não busco, em mim tudo o acaso traz, vou me descobrindo aos poucos feito criança há poucos dias saída do ventre e abandonada pela própria mãe. Renego qualquer adjetivo no sentido de limitar o que sinto, minhas palavras não pertencem a nenhuma ordem, a nenhum intermediário, pertencem ao que da alma colho e remeto ás caixas postais dos olhares que vez por outra caminham por estas linhas. Sou um triturador do espírito, alguém que espreme da calma da alma aquilo que sobra e se esconde.
Cada gota vale o prazer de revelar a mim o museu dos meus sentidos ou o futuro do meu imprevisto. Sou arqueólogo da infinita condição de não saber o que procuro tendo a certeza do que acho. Sim tudo é pessoal, tudo é intimo, não nego! Ante a vida fingi-se a todos, até aos mortos, menos a um, o corpo de dentro por dentro de nós. Sendo assim sou bem vindo a tudo que reconheço como sendo parte de mim.

Foto por Mariana Maltoni

terça-feira, novembro 14, 2006

Conversa ao pé do ouvido




























...
Fico esperando um convite seu
Com inicio com principio
Propicio pra deixar acontecer

Então deixa o sol se pôr
Pra me pôr em ti
Deixa a noite vir
Pra você vir a mim

Como seria ver
E receber
Reler em você
Aquela história de nós

Sinto muito e espero
Não despertar em ti
A culpa da minha dor
É que pousou em meu mundo
A recordação

Só queria te acordar
Pra falar de amor
Sem mais nem porque
Só de mim pra você.

Foto por Manu Coloma

sexta-feira, novembro 10, 2006

Êxtase














Escrevo sozinho no meu quarto, sozinho como sempre tenho sido pelas manhãs e como sempre serei, pois prefiro assim, preciso assim. Penso se a minha voz presa dentro desse arcabouço de razões seria a única, ou se, existe em outros o mesmo que existe em mim? Serão quantos a minha volta? Conhecidos ou desconhecidos? Do porteiro rabugento ao vizinho sorridente, do homem impaciente, ao dono da banca de revistas, quantos tem um quarto seu para abrigar silêncio e tristeza? Sinto que todos! Sinto por todos. Vejo-me no quarto andar dessa avenida, daqui leio do mundo seus lamentos por planos desfeitos que ao juntar-se aos meus me tornam pequeno e egoísta.
Eu me aperto contra a parede e pergunto a mim mesmo: O que você vai fazer hoje? Pescoço de lado olhando sentido chão, vê meus olhos caídos. Vejo-me: uma flor envelhecendo, triste por sentir os ombros arqueando cada vez que pensa em sorrir. Sou como vela que leva o barco, sou como quem vai carregado, me sinto apenas corpo, toco levado pela correnteza.
Tudo é amargo, o gosto do fel goteja em minha língua, conto gotas, conto os dias que parecem acabar em noites eternas cobertas por um manto de erros passados perpetuando um reinado de angustia.
Minha corrente tem dois lados, a segurança de estar vivo preso ao sentido de continuidade inerente a todos que tem no conforto de suas casas e na estabilidade de seus ofícios a felicidade. Pouco, talvez não? Apenas duas caixas de embrulho paraíso dia a dia abertas e varridas para debaixo do tapete da minha porta de entrada.

Foto por Bruno Espadana