terça-feira, julho 24, 2007

Breve história de um longo reinado


Ante a Forca

O papel a carne e a caneta faca
Deslizando levemente sob anatomia
Quase desconhecida
É um acordo que eu tenho
Com Deus e com o Diabo
Pelo que ouvi dizer do purgatório
Este seria o melhor lugar para mim
Ah... Quem ouvisse minha voz
Diria de mim que perdi a cabeça
Que digam, mas que me escutem.

Ante Deus

Hoje não quero falar de um grande amor
De chegadas ou partidas
Não quero falar palavras vazias
Repetições e nostalgias...
E assim que os olhos põem
Em mim o tratado de encerra
Hão de dizer que em mim fui eu, sempre,
Nesse chão cárcere minhas últimas palavras
Compõem-se e se decompõem
Diriam de mim, lá se foi mais um louco,
Ririam de mim, a morte pra mim é pouco.

Ante o próprio Corpo

Confabulam, se misturam ao redor de um corvo morto
Murmuradores nocivos com seus véus e terços
Cuidadosos com suas línguas de ponta de lança
Afinal de morto não se fala mal, ética social,
Ah, mas por dentro pedras e aleivosias...
Sempre há quem dê ouvidos ao mentir
Quando para os bons serei inferno e fogo
E para os maus paz e paraíso
Mas se serei eu o que dizem
Como serei eu o que sou?

Ante os Amigos

Respondo: deixem dizer os malditos
Nunca se tem entrada para todos no circo
Nem toda terra que piso aponta caminho prometido
Ventura todos dizem que é preciso
Mas com a verdade são poucos a marcar batismo
Não entregarei o meu silêncio
As rédeas dos que se dizem Barões
Se eles pecam pelo desejo de manter corrompido
Todos os magros espíritos alheios
Morrerei pelo lampejo de ver acesa
A ultima luz de um lampião esquecido.

Ante os Inimigos

Sua mentira mastigada entre os caninos
São que em tudo que digo me amparo
De nobre verdade e de fieis amigos
Por minha desventura pode estar minha vida
Repleta de abismos e sonhos banidos
Mas não culpo a carroça pelo erro do animal
Então meus caros Nobres deste quintal
Como querem que haja dentro deles
Fé, esperança ou sorriso festivo...
Como falei a pouco ali bem atrás
Sua verdade apareceu de braços cruzados e fugidos
Gerando espinhos de dor e espíritos submissos.

Ante o Diabo

Antes de ir-me a morte um ultimo aviso:
Levantarão eles um dia para sangrar seu trono
Sem se importar irão todos os seus enforcar
Ladrões, assassinos e vossos meninos...
Pois abaixo de tantos mandos e desmandos
Escondem-se fezes venenosas e mal cheirosas
Não importará a eles seus corpos mortos
Ou o quanto Deus se sentirá ofendido
Servirão apenas para dar-lhes motivo
De único e verdadeiro sabor de ódio possuído.

Ante mim

Sendo, descansará aqui a paz.


Foto por Bart

segunda-feira, julho 16, 2007

Se eu morresse amanhã



Queria não ter que esperar
Queria te ver ao acordar
Me divorciar do não
E também do depois e do então
Queria saber dos seus olhos
O que eles vão dizer ao me ver
Queria saber do seu sorriso
Se ele vai me receber.

Ai mais que vontade que saudade de você,
Ai mais quanta hora que demora pra te ver.

Então vem me dizer
Queria tanto saber
Se você também vai querer
E se eu morresse amanhã
Teria o tempo à clemência
De fazer você chegar
Sendo assim dou minha vida
Pelo instante de viver
Meu agora com você.

Foto por Bart

domingo, julho 08, 2007

Ensaio II


...Para compreender preciso destruir, esquecer a forma e o sentido para qual foi concebido, não saber nada para saber o que é, ou acabo me afogando em outras águas que não a dos meus mares. Algumas partes da vida nos trazem mistérios quase indecifráveis, e ao primeiro olhar, o raso traz a resposta, o senso comum de estar inserido socialmente em um controle remoto de concordâncias e não questionamentos. Assim o destruidor acaba em solidão, excluído de um circulo, feito para ser circulo fechado, expulsa-o, mas o pior é sentir-se só de si mesmo, órfão da própria alma. Compreender não é aceitar, não é descordar, compreender é fazer transbordar o absurdo para depois bebê-lo. É o meu exercício diário, minha serie de três com dez repetições para cada membro do meu corpo magro. Compreender com o olhar o sentido súbito e único de estar em harmonia e concordância comigo mesmo...

Foto por Paulo Madeira