quinta-feira, março 22, 2007

...sobre todas as coisas


Oh menina aflita o que fazes deste lado escuro da calçada?
Tentando tapar os buracos tristes desta tua varia estrada,
A margem dos caminhos vendo ir sozinho teus passos sombrios
E recordando do tempo os dias de luz mansa clareando teus desvios.

Deste longe alteio segue minha prece ante o dia madrigal que acontece,
Peço crendo com fé para ti alcançar o que a vista não há de ver,
Que a razão não te leve para o lugar breve do pensar e não sentir,
Desassossego puro de um coração puro ao encontro do desistir.

Oh menina rica porque continuas aqui sempre descalça
Passando pela pressa do fazer mesmo sem saber o porque?

Pobre alma de pranto vivo a embaçar tuas lentes e meu sorriso.
O mais triste é saber que são verdadeiras tuas lágrimas minhas,
Que vão se espalhando, esfarelando, por aqui e ali sobre todas as coisas,
Feito pó de asa de mariposa que o vento vai e leva a contento.

Obrigado menina, por vir até aqui mesmo sem saber se eu viria.
Digo, belo são seus anseios, assim tão finos como a palma de uma criança.
Oh menina, só não queira para si uma casa de acasos com quartos vagos,
A sorte é algo frágil na roleta da vida, quando pensas que a tens,
cai logo em seguida...

Foto por Bruno Miranda

segunda-feira, março 19, 2007

Espantalho


Vejo meus olhos sepultados lado a lado
Debruçados a beira de um caixão alugado,

Tento mesmo que inutilmente fazer brotar
Aquele que um dia desejou aprender voar,

Ao meu lamento um desalento se segue
Por não poder mais chorar dor e sangue,

Pus meu gesto de adeus na paisagem
Como quem distorce a própria imagem,

Roubaram-me o lado sentido de dentro
Venderam-me o lado racional ao centro.

...Eu tinha algum olhar
...Eu tinha algo a dar

Foto por Artur Franco

terça-feira, março 13, 2007

Amém


Chegou o fim, o fim de tudo,
O abismo do mais profundo
Chagou fim, o fim do mundo.

Pobre mistério de nós
Enterrados como ratos
No subterrâneo convés
De nossas próprias galés.

Ossadas decoram de branco
O que antes era quase humano.

Nada lembra o que é azul
Quem voa se despede
Graça sucumbida
Cai e morre.

Rolam dos morros bolas de fogo
Tons de cinza cobrem nossa ida.

Se foi a tecnologia nômade
Errante a cada novo desastre
Prestar contas ao Diabo
Pelos honorários pagos.

E tudo se recordará de ontem
Quando os gestos eram ao vivo
Quando os livros eram escritos
Quando os poemas eram lidos.

E tudo recomeçará de novo
Descobertos por arqueólogos
Escafandristas, Niilistas,
Futuristas em questão.

Será tudo estudado, interpretado,
Analisado, questionado.
Do primeiro amor
Ao ultimo suspiro.

Mas só, se reinventarem os poetas, entenderão.
E nós descansaremos, finalmente, em paz!

::Dedico a todos que passam ou passaram por aqui::


Foto por Paulo Madeira