quarta-feira, agosto 30, 2006
Sepulcro
Esse espelho já não me serve mais
Sou mais sombra que rosto
Meu coração é uma forma antiga
Uma máquina de escrever esquecida.
Abandonei primeiro a mim
Aos poucos todos os outros
Devagar fui me desatando
Meu olhar cálido negrejando.
Desfaço-me em pequenos pedaços
Vejo-me ocultando o que dantes sentia
Esvaindo-me sereno por contente
Pelos assombros do meu presente.
Aproxima-se um doce acalanto
O instante de um único fim
A partir de amanhã não estarei
Apenas irei.
Cada dia como menos
A alma está magra
Repleta de vazios.
O que quero e não tenho
Chamo de um sonho
E a cada dia durmo menos.
Foto por Mariana Maltoni
terça-feira, agosto 22, 2006
Canção de você
Ah tristeza vá embora
Não te quero agora
Que tudo se resolveu
Ah tristeza fica lá fora
Que aqui não tem hora
De descansar alegria
Já me dei o perdão
Já me juntei ao cordão
Dos que são sãos
Já decidi não ir
E nem mais um dia
Entregar-me à solidão
Encontrei a metade
À parte que faltava
To á vontade
Saiu á dor, sumiu o horror,
A sangria que um dia
Desandou e me tombou
Entre a vida e a morte
Encontrei-te
Encontrei em ti minha sorte.
Foto por Ivone Peoples
segunda-feira, agosto 21, 2006
De anteontem
Das lembranças da vida
Lembro da navalha que me lançaste
Por pura vaidade de me ver sangrar
Com o dia ainda claro, como um raio,
Caio...
...Pássaros sobrevoam meu corpo
Cães me levam a caminho do almoço
Sou eu servido a mesa dos grandes
Senhoras e senhores
Eu perdedor (?),
Vocês ganhadores (?).
(Quanto mais me assombras mais expulso meus demônios)
Foto por Elsa Mota Gomes
quinta-feira, agosto 17, 2006
Um dia de criança
Pião, pião, pião...
Corre do dedo e cordão
Gira, gira solto pelo chão
Quando cansa cai tonto
Pedindo que lhe de a mão
Pipa, pipa, pipa...
Guia no céu os raios de sol
Pra longe te leva o vento
Quanto mais longe vejo
Mais linha leva meu desejo
Rola, bola, rola...
Corre pé pelo pó vermelho
Sem camisa e descalço
Sou criança o dia inteiro
Cobro escanteio e cabeceio
Sou forte, não me canso!
Corro, pulo, invento história!
Sou mágico, bombeiro, cavaleiro!
Por onde passo levo comigo
Todos os meus sorrisos
Mas quando chega o fim do dia
Menino invisível ele vira
Acaba de uma vez toda valentia
Na barra da mãe se esconde
Pra não tomar banho de água fria.
Foto por Vitor Dias Fereira
segunda-feira, agosto 14, 2006
Uns que diziam ser humanos
...Chegará um tempo
Onde a palavra será silêncio
E o silêncio será mantido.
O seco e o amargo
Tomarão conta das sentenças
E as sentenças serão um só deserto.
Um manto em vertical
Cobrirá o desejo madrigal
E o desejo se tornará indesejável.
Chegará um tempo
Onde seremos imóveis
Hóspedes em um retiro de atores,
Ossos largados por cães saciados
Tempo em que se perderá
O amor da alma e da alma a compreensão.
Deitará você tendo ninguém
Para de ti tomares conta
Sem dar conta fenecerá.
O sorriso será guardado
Feito segredo amaldiçoado
Pedaço de um passado crucificado,
Mantido esquecido se afogará
Os escafandristas desistirão
Nossos corpos já não serão matéria.
O amor seja lá como for
Não será mais amor
Será algo que aprenderemos a embalsamar,
Porque dos braços já não saem os laços
Não pedem, não prendem, se despedem, se perdem,
Por lugares onde não estaremos mais...
Foto por Mariana Maltoni
quinta-feira, agosto 10, 2006
Canção do silêncio (para Dyna Hoffmann)
Palavras faltam
Coração dispara
O mundo para
Vontade de você,
Palavras faltam
De olhos sonhados
Recordo seu sorriso
Com ele, sigo.
Assim como vela
Ao rumo de seu porto
Em seu corpo encontro
Um imenso conforto.
Palavras faltam
Saudade desenha
Suas lindas linhas
Em suaves contornos,
Palavras faltam
Vem bem pra perto
Um abraço e tudo certo
Me acalma te ter em mim.
Escutar o seu silencioso sim
E que todas palavras faltem
E que me sobre...
O amor.
Foto por Manu Coloma
segunda-feira, agosto 07, 2006
Balão
............................................Balão
...............................Bem alto
.....................Alto
Voa
no chão
................................cai
.......................cai
a toa
dor vermelho sangue
destoa pelo mar céu azul
meu triste, triste olhar.
era eu que via ela
era ela que não via eu
vaaaaaaaaaaaaaaaaai
................................vai
e desfaz
sem um notar,
sem nem olhar.
c...o...r...r...e , c...........o............r............r............e
e se encontrar o que foi buscar
volta e diz
que é pra eu não mais
.......................................c
........................................h
.......................................o
........................................r
.......................................a
........................................r.
Foto por Yashuhide Fumoto
quinta-feira, agosto 03, 2006
Canção da seca
Desce a ladeira
Pula a cerca
Vira esquerda
Acostuma com a seca
Garganta tão seca
Sol que só queima
Minha certeza
Fugiu a chuva
Do céu de fogo
Só vejo poeira
Na bica sem água
Quero resposta
Da minha prece
Depois da eleição
Nem Deus aparece
Ta tudo morrendo
A vida padece
Nos olhos vazios
Choro não cai
Um corpo seco
Tem pranto seco
Prato vazio
Vazio da alma
Em gente deserta
E quem pede calma
Não sabe da pressa
O pasto não cresce
A água não desce
Cadê Maria
Sumiu João
Estão todos morrendo
Todos são filhos
Dessa seca ilusão.
Foto por Dida Sampaio
Assinar:
Postagens (Atom)