
Esse espelho já não me serve mais
Sou mais sombra que rosto
Meu coração é uma forma antiga
Uma máquina de escrever esquecida.
Abandonei primeiro a mim
Aos poucos todos os outros
Devagar fui me desatando
Meu olhar cálido negrejando.
Desfaço-me em pequenos pedaços
Vejo-me ocultando o que dantes sentia
Esvaindo-me sereno por contente
Pelos assombros do meu presente.
Aproxima-se um doce acalanto
O instante de um único fim
A partir de amanhã não estarei
Apenas irei.
Cada dia como menos
A alma está magra
Repleta de vazios.
O que quero e não tenho
Chamo de um sonho
E a cada dia durmo menos.
Foto por Mariana Maltoni