sexta-feira, novembro 10, 2006

Êxtase














Escrevo sozinho no meu quarto, sozinho como sempre tenho sido pelas manhãs e como sempre serei, pois prefiro assim, preciso assim. Penso se a minha voz presa dentro desse arcabouço de razões seria a única, ou se, existe em outros o mesmo que existe em mim? Serão quantos a minha volta? Conhecidos ou desconhecidos? Do porteiro rabugento ao vizinho sorridente, do homem impaciente, ao dono da banca de revistas, quantos tem um quarto seu para abrigar silêncio e tristeza? Sinto que todos! Sinto por todos. Vejo-me no quarto andar dessa avenida, daqui leio do mundo seus lamentos por planos desfeitos que ao juntar-se aos meus me tornam pequeno e egoísta.
Eu me aperto contra a parede e pergunto a mim mesmo: O que você vai fazer hoje? Pescoço de lado olhando sentido chão, vê meus olhos caídos. Vejo-me: uma flor envelhecendo, triste por sentir os ombros arqueando cada vez que pensa em sorrir. Sou como vela que leva o barco, sou como quem vai carregado, me sinto apenas corpo, toco levado pela correnteza.
Tudo é amargo, o gosto do fel goteja em minha língua, conto gotas, conto os dias que parecem acabar em noites eternas cobertas por um manto de erros passados perpetuando um reinado de angustia.
Minha corrente tem dois lados, a segurança de estar vivo preso ao sentido de continuidade inerente a todos que tem no conforto de suas casas e na estabilidade de seus ofícios a felicidade. Pouco, talvez não? Apenas duas caixas de embrulho paraíso dia a dia abertas e varridas para debaixo do tapete da minha porta de entrada.

Foto por Bruno Espadana

2 comentários:

FLORA disse...

Adorei a foto e o texto...Você realmente escreve muito bem...Acho que passarei a visitar mias vezes seu blog.O conteúdo é ótimo...Será que virei fã?!
Beijos

Juliana Marchioretto disse...

eu tenho.... sinto também.

belo texto.

**
bjo