terça-feira, janeiro 31, 2006

Filisteus




















Tantos anos não lhe deram sabedoria
Então não será esse livro e profetas que o farão
E se a fé não lhe deu harmonia
Nem mesmo Deus lhe dará perdão
Quem procura carne
Nunca encontra coração
Quem nunca andou descalço
Não sabe a medida sincera
Dos olhos nos olhos
A esses tantos outros
Chamam-se mesquinhos
De caminhos esguios e sombrios
A os que ainda se dizem cristãos
Com tanta reza e esmero
Sabem do Pai e do céu
Mas não ousam saber do homem
Nada mais do que seu sobre nome.

Foto por Jorge Garcia

sexta-feira, janeiro 20, 2006




















Por um instante eu peço
Me deixe de canto
Me cale o canto
Com um manto plúmbio
Cubra minha vã certeza
E me desfazer em mim
É não saber de mim
Me traga o escuro na mão
Quero beber da solidão
O vazio em eco
O luto puro do lado negro
Negro olhar de medo
Costurando fantasias de terror
Colhendo suavemente a dor
Do corte aberto no tempo
Da mente aberta no sonho
E o sonho não pode acabar
A cura bem vinda ao som de sinos
A cura nos pés de asas a voar
Por um horizonte ao longe
A fé perdida talvez um dia
Aprender de joelhos rezar
Mas por enquanto eu peço
Me deixe nesse canto
Quando tudo que quero
É o meu silêncio.

Foto por Hugo Delgado

quarta-feira, janeiro 18, 2006

2x1















Querida, vendi a casa
Mas antes de entregá-la
Atearei fogo
A verei queimar
E pelo ar irá toda tristeza.

Querida, as chamas brilham
Mas antes de apagá-las
Escutemos das paredes
O barulho da queda
E pelo chão irá a separação.

Querida, se esqueça da chuva
Ela não virá
A sorte do outro lado está
Fazendo a hora se apressar
Logo só restará cor cinza a voar.

Pelo céu vão as lembranças
Levando a grande Deusa
Que um dia me encantou
O vento eleva a mão e leva a culpa
Ante olhos mudos silabas perdidas.

Já é tarde, tudo dorme, tudo sangra
Já não temos mais tempo
Dentro desse templo que desaba
Nesse mundo cada vez mais confuso
Seja esse o desejo da nossa morte
E só assim reviva nós em novos dois
Em exata forma na norma de um par.

Foto por Mário Castro

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Desencontro












-Quero que entenda
Olha o que perdi
O que se foi
O que não vi
E se vai voltar quero reclamar
O meu direito por esperar

-Tanto tempo assim
Puseram pedras em mim

-Cansada estou
E acordada ainda
Esperando sua vinda
Nunca chega
Nunca enterro
Sua partida

-Tanto tempo assim
Puseram pedras em mim

-Aprendi passar a vida desapercebida
Me pus entre lençóis
Entre muitos que não quis
Só pra ver se despertava em ti
A mentira de não te querer

-Tanto tempo assim
Puseram pedras em mim

-Como posso acreditar agora
Nunca recebi sua resposta
Só mesmo o desprezo senti

-Tal carta nunca recebi
Até hoje minha amada
Só o mesmo desprezo senti

-Quanto erro depositar nas mãos de um carteiro
Palavras eloqüentes de um amor verdadeiro

-Com tanto tempo sós
Construímos muros demais em nós
Tarde demais pra esquecer
Das pedras que nos fazem sofrer.

Foto por Reuters

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Duvida?














...Como você pode dizer que sofre
Se nunca viu campos de batalha e morte

Como você pode se dizer pobre
Se não sabes como vive um nobre

Como você pode dizer o que é mentira
Se não sentiu que a si próprio trairia

Como você pode dizer que é despedida
Se não sabe se a distância será cumprida

Como você pode dizer que é difícil
Se mal começou e ainda está no inicio

Como você pode dizer que conseguiu
Se por todo caminho você não caiu

Como você pode dizer que foi embora
Se nem um dia saiu da minha memória

Como você pode dizer o que é deserto
Se não tem olhado meus olhos de perto

Como você pode dizer o que eu quero saber
Se você não sabe se sou eu o que você quer ter...

Foto por Bruno Miranda

sexta-feira, janeiro 06, 2006

O que será?















Traga-me luz primeiro de janeiro
Traga-me luz por esse ano inteiro
Acabe de uma vez com meu dês
Esse encontro eu espero não rever
Nesse dia primeiro
Eu apenas peço e agradeço

Traga-me luz primeiro de janeiro
Traga-me luz por esse ano inteiro
Faça jus à vida justa
Levando a morte ao encontro da sorte
Enterre lá as minhas feridas
Acordando assim os sonhos da minha vida

Traga-me luz primeiro de janeiro
Traga-me luz por esse ano inteiro
Que minha língua já não sinta
O dissabor dessa sangria
Que o carrasco que em minha pele vive
Derrote esse engenho que aqui persiste

Traga-me luz primeiro de janeiro
Traga-me luz por esse ano inteiro
Não me deixe ficar a sombra de outra imagem
Perdida carruagem cega a vagar por ruas incertas
Não me perca assim como esse que agora vejo
A nadar contra a maré de imenso desprezo
Um ser que de tão pobre só lhe sobra dinheiro.

Foto por surpresa atrás da porta